Houve uma recente popularidade em torno de camisetas estampadas com a frase “Protect the dolls” nas redes sociais. O termo “dolls” se refere a mulheres transexuais na cultura ballroom, um apelido que existe desde os anos 1980. A peça foi criada pelo estilista americano Connor Ives, que reside em Londres, e foi apresentada no encerramento de sua coleção de inverno 2025 durante a London Fashion Week.
Recentemente, várias celebridades, como o cantor Troye Sivan e a atriz Tilda Swinton, foram vistas usando a camiseta. No entanto, o ator Pedro Pascal ganhou destaque ao usá-la em sua festa de aniversário e na estreia britânica do filme “Thunderbolts”. Pascal se tornou um defensor dos direitos trans, especialmente após sua irmã, Lux Pascal, se assumir como mulher trans em 2021.
A moda pode ser uma ferramenta de expressão política e social, servindo como um meio para apoiar comunidades marginalizadas. Entretanto, a comercialização de peças com mensagens sociais levanta questões sobre a eficácia real desses produtos no apoio às causas. A análise crítica é necessária para entender se existe alguma colaboração com organizações de apoio e se as receitas são revertidas para ações efetivas.
A coleção de Connor Ives foi inspirada pela sensação de desamparo que permeia a sociedade. A camiseta “Protect the dolls” busca disseminar uma mensagem de apoio, especialmente para a comunidade LGBTQIA+. O estilista destacou em uma entrevista que as pessoas trans frequentemente são vistas como “o outro”, algo que potencializa a discriminação e a violação de direitos.
Das vendas da camiseta, aproximadamente 70 a 80% do valor é destinado à Trans Lifeline, uma organização que oferece suporte e orientação a pessoas trans. Cada camiseta é comercializada por 75 libras, e até o momento, foram arrecadadas mais de 380 mil libras. Devido à alta demanda, as vendas agora são feitas apenas sob encomenda.
Essa adesão não é acidental, visto que os direitos das pessoas trans estão sendo ameaçados globalmente, especialmente em contextos políticos conservadores. Desde a ascensão do governo de Donald Trump, foram implementadas diversas políticas que limitam direitos e acesso a cuidados médicos para menores.
Recentemente, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu que a definição legal de gênero deve se basear apenas no sexo biológico, enquanto casos de discriminação também têm ocorrido em outros países, como evidenciado pela emissão de documentos com gênero incorreto para personalidades públicas.
Outras marcas também se pronunciaram durante a temporada de inverno 2025. O estilista Willy Chavarria homenageou a comunidade LGBTQIA+ com uma peça que trazia a mensagem “How we love is who we are”, e Patricio Campillo usou um estampado em resposta às declarações de Trump sobre o nome “Golfo do México”.
A utilização de camisetas com slogans políticos não é um fenômeno recente. Em 1984, a estilista Katharine Hamnett fez um protesto ao usar uma camiseta com uma mensagem contrária à política de defesa nucleares do governo britânico. A estampa se tornou icônica e reflete o uso da moda como uma forma de ativismo.
Na década de 1990, a Maison Margiela lançou uma camiseta com uma mensagem sobre a luta contra a AIDS, estabelecendo um precedente para campanhas contínuas em parceria com instituições que apoiam a comunidade que vive com o HIV. Mais recentemente, iniciativas como a de Jonathan Anderson, que colaborou com Visual AIDS, demonstram como a moda pode apoiar causas sociais.
A estilista Isa Silva também usou sua plataforma para homenagear a liderança de Dandara, estimulando debates sobre representatividade e inclusão. Desfiles de moda têm se tornado canais importantes para abordar questões sociais e políticas por meio de suas temáticas e mensagens.
Em desfiles anteriores, a designer Maria Grazia Chiuri criou camisetas com a frase “We should all be feminists”, promovendo o feminismo e o reconhecimento de vozes historicamente marginalizadas. Ronaldo Fraga usou sua coleção de 2017 para destacar a violência contra mulheres trans no Brasil, refletindo as realidades sombrias enfrentadas por essa comunidade.
A representação de diferentes grupos é um aspecto fundamental na moda, e a crescente inclusão de estilistas e modelos negros indica uma mudança na indústria. A capacitação de indivíduos de comunidades marginalizadas, exemplificada pelo Projeto Ponto Firme, mostra o impacto positivo que tais iniciativas podem ter na sociedade e na transformação de paradigmas na moda.