Um tubarão em forma de guitarra, um coral em forma de leque e um caracol venenoso de águas profundas, que possui dentes semelhantes a arpões, estão entre as 866 espécies recém-descobertas em uma iniciativa para catalogar a vida marinha. Essas novas espécies foram identificadas por meio de mergulhos, submersíveis e veículos operados remotamente em 10 expedições oceânicas. As descobertas foram divulgadas pelo Ocean Census, uma aliança global comprometida com a proteção da vida marinha, que apresentou sua primeira atualização significativa desde seu lançamento em 2023. Este projeto, com duração de dez anos, busca preencher as consideráveis lacunas no conhecimento científico sobre os habitats oceânicos.
Durante uma expedição de 35 dias às Ilhas Sandwich do Sul no Oceano Atlântico Sul, cientistas analisaram espécies encontradas a profundidades que variam de 1 metro a 4.990 metros. A equipe do Ocean Census é composta por mais de 800 cientistas de 400 instituições. A especialista em corais Michelle Taylor, da Universidade de Essex, destacou que provavelmente apenas 10% das espécies marinhas conhecidas foram descritas até o momento. A diversidade de espécimes catalogados vai desde tubarões e peixes-cachimbo até diversos tipos de corais.
Taylor expressou sua expectativa de que novas espécies seriam identificadas durante a expedição, incluindo um coral que ela suspeitava ter sido colecionado três dias antes. Ela salientou que a área em questão é remota e raramente visitada, indicando a riqueza potencial de espécies a serem descobertas. Um dos destaques das novas descobertas foi um octocoral localizado nas Maldivas, que se distingue por sua suavidade e flexibilidade em comparação com outras espécies de corais.
Outro achado importante foi o tubarão-violão, pertencente ao gênero Rhinobatos, encontrado na costa de Moçambique e Tanzânia. Esse tubarão apresenta uma morfologia única, combinando características de tubarões e raias. Taylor observou que a descoberta de novas espécies de tubarões é especialmente significativa, já que suas populações estão em declínio globalmente. Além disso, uma expedição diferente revelou novas espécies, como uma lapa e uma estrela-do-mar, em águas polares a profundidades de 3.053 metros.
Essas criaturas prosperam em condições de temperatura extremas, que variam de quase congelamento a áreas adjacentes a fontes hidrotermais que superam 300 °C. Um predador gastrópode denominado Turridrupa magnifica também foi identificado. Esses caracóis de águas profundas possuem a capacidade de injetar toxinas em suas presas, e compostos bioativos associados ao veneno de espécies correlatas têm mostrado potencial para avanços em tratamentos médicos.
Com o uso de tecnologias emergentes, como sequenciamento genético de DNA ambiental e imagens em tempo real, a identificação de novas espécies marinhas está se tornando mais ágil. No entanto, a coleta de espécimes físicos continua sendo necessária para confirmação, o que pode ser um processo demorado. A descrição científica de novas espécies pode levar anos, e muitos organismos recém-identificados ainda não receberam nomenclatura formal. Um dos objetivos centrais do Ocean Census é acelerar o ritmo das descobertas. Quando foi lançado, o projeto visava identificar 100.000 novas espécies em uma década.
A necessidade de um processo de revisão acadêmica por pares pode resultar em atrasos significativos para a nomenclatura das espécies, o que dificulta a disseminação do conhecimento. Michelle Taylor enfatizou que os ambientes marinhos enfrentam desafios enormes, e para compreender a biodiversidade, conectividade e biogeografia, assim como as implicações da mudança climática, é essencial descobrir maneiras mais rápidas de catalogar as novas espécies.