Uma nuvem molecular invisível, capaz de contribuir para a compreensão da formação de estrelas e planetas, foi identificada surpreendentemente perto da Terra. Nomeada Eos, em homenagem à deusa grega do amanhecer, essa nuvem gasosa, que teria uma aparência imponente no céu noturno se pudesse ser vista a olho nu, possui cerca de 40 luas de largura e uma massa aproximadamente 3.400 vezes maior que a do Sol, de acordo com um estudo recente publicado na revista Nature Astronomy.
Na astronomia, a descoberta de elementos anteriormente invisíveis frequentemente resulta de observações mais profundas utilizando telescópios de alta sensibilidade, permitindo a detecção de planetas menores e galáxias mais distantes. Thomas Haworth, coautor do estudo e astrofísico da Queen Mary University of London, observou que esta nuvem estava, na verdade, muito próxima, mas não foi notada anteriormente.
As nuvens moleculares são formadas por gás e poeira, das quais podem surgir moléculas de hidrogênio e monóxido de carbono. Estruturas densas dentro dessas nuvens podem colapsar e resultar na formação de estrelas jovens. Tradicionalmente, os cientistas identificam nuvens moleculares por meio de observações em rádio e infravermelho, que detectam a assinatura química do monóxido de carbono, como explicou Haworth.
Geralmente, a busca por esse composto, que consiste em um átomo de carbono e um de oxigênio, é facilitada pela sua emissão de luz em comprimentos de onda facilmente detectáveis. Contudo, a Eos não foi identificada devido à sua baixa quantidade de monóxido de carbono, que limita a emissão da assinatura típica observada. A descoberta se tornou possível ao focar na luz ultravioleta emitida pelo hidrogênio presente na nuvem.
Os pesquisadores conseguiram detectar Eos utilizando dados obtidos por um espectrógrafo de ultravioleta extremo chamado FIMS-SPEAR, que operou em um satélite sul-coreano. Os dados tornaram-se acessíveis ao público em 2023, quando foram analisados por Blakesley Burkhart, professora associada na Universidade Rutgers e autora principal da pesquisa. O espectrógrafo separa a luz ultravioleta emitida pelo material em seus comprimentos de onda, similar ao que um prisma faz com a luz visível, produzindo um espectro para análise.
Burkhart destacou que esta é a primeira nuvem molecular descoberta através da observação direta da emissão de hidrogênio molecular no ultravioleta extremo, enfatizando que as moléculas de hidrogênio foram detectadas por fluorescência na luz ultravioleta. Essa nuvem é descrita como “brilhando no escuro”.
A proximidade da nuvem com a Terra proporciona uma oportunidade singular para investigar os processos de formação de sistemas solares. Burkhart ressaltou que a descoberta de Eos possibilita medições diretas sobre como as nuvens moleculares se formam e se dissipam, além de como uma galáxia converte gás e poeira interestelar em estrelas e planetas.
Astrônomos acreditavam ter um conhecimento abrangente sobre a localização e as características das nuvens moleculares a até 1.600 anos-luz do Sol, tornando essa nova descoberta uma surpresa significativa, conforme mencionado por Melissa McClure, professora assistente na Universidade de Leiden. McClure, que não participou da pesquisa, enfatizou que a nuvem Eos está a apenas 300 anos-luz de distância, sendo mais próxima do que qualquer outra nuvem molecular conhecida até agora. Ela comparou a descoberta a viver em um bairro onde, de repente, se descobre um abrigo subterrâneo escondido em um lote que parecia vazio.