Na quarta-feira, 16 de agosto, a Polícia Federal deflagrou a operação Teatro Invisível 2 com o objetivo de desarticular uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações, lavar dinheiro e financiar campanhas eleitorais com recursos de caixa dois. Um dos alvos da operação é Davi Perini Vermelho, conhecido como Didê. Este político, ativo na Baixada Fluminense, tornou-se influente no estado ao assumir um papel primordial na destinação dos recursos provenientes da privatização da Cedae, a companhia estatal responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto, cujo controle foi transferido para a iniciativa privada em 2021.
Didê presidiu a Câmara Municipal de São João de Meriti por três mandatos consecutivos, saindo somente para assumir a direção do Instituto Rio Metrópole em dezembro de 2022, por nomeação do governo estadual. O instituto foi criado para planejar e executar obras de saneamento, urbanismo e mobilidade na Região Metropolitana e atualmente é o responsável pela gestão de um fundo substancial, resultante do leilão da Cedae, que ultrapassa 500 milhões de reais.
Em 2023, um outro alvo da operação, o deputado estadual Valdecy da Saúde, que tem forte ligação com Didê e foi candidato à prefeitura de São João de Meriti, obteve a aprovação de um projeto que ampliou as funções do Instituto Rio Metrópole, permitindo que este realizasse também obras simples, como a pavimentação de ruas. Embora tenha recebido um parecer contrário da Procuradoria-Geral do Estado, que considerou a proposta inconstitucional, a lei prosseguiu. Antes das eleições municipais, Valdecy foi um dos principais beneficiários das obras executadas pelo instituto, embora não tenha sido reeleito.
A investigação atual não é a primeira a afetar Didê. Em 2022, ele foi detido em uma operação conjunta entre o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Polícia Civil de Santa Catarina, sendo acusado de ser proprietário da empresa que vendeu respiradores ao governo do estado a preços inflacionados durante a pandemia. Na operação mais recente, a Justiça ordenou o bloqueio de R$ 3,5 bilhões em bens, além da suspensão de atividades de oito empresas. Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, incluindo endereços associados a Didê.
O nome da operação foi inspirado em táticas utilizadas pelo grupo, que, segundo os investigadores, contrata atores para disseminar fake news em espaços públicos durante o período eleitoral, visando difamar adversários políticos. Conforme informações da Polícia Federal, os investigados teriam destruído provas digitais durante a primeira fase da operação Teatro Invisível, realizada em setembro de 2024. A nova etapa revelou que o grupo utilizou recursos não declarados à Justiça Eleitoral para apoiar candidaturas e cometeu fraudes em licitações em cinco municípios: Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba, Juiz de Fora e São João de Meriti.
Em resposta, o Instituto Rio Metrópole divulgou uma nota afirmando não estar envolvido em práticas ilegais. O comunicado destaca que a operação realizada não diz respeito ao instituto, que reafirma o comprometimento com as políticas públicas em benefício da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e da melhoria da qualidade de vida de sua população. O instituto também expressou sua disposição em fornecer informações adicionais por meio de sua assessoria de imprensa.