“Você acredita que Trump pode conseguir um acordo de paz?”, questionou o Telegraph em relação à guerra na Ucrânia. Notavelmente, 77% dos leitores responderam que não. Esta pesquisa não foi realizada por um veículo de esquerda, mas por uma publicação de direita tradicional. Um fenômeno semelhante é observado nos Estados Unidos com o Wall Street Journal, conhecido por seu apoio ao liberalismo econômico e principios conservadores.
Esse mesmo jornal já se referiu à política de tarifas de Trump como “a guerra comercial mais idiota da história” e, em um editorial, advertiu que as tarifas poderiam causar danos a trabalhadores da indústria automobilística e ao Partido Republicano no estado de Michigan. O editorial concluiu: “Se este é o objetivo, siga em frente, senhor presidente.”
Em resposta, Trump adotou um tom agressivo, acusando o jornal de estar “sempre errado” e expressou sua intenção de processar a mídia para verificar a veracidade de fontes anônimas mencionadas por eles. É um indicativo de que publicações que se consideram respeitáveis tendem, de alguma maneira, a desagradar a administração em vigor, mas é interessante notar a crescente distância de publicações de direita em relação a Trump. Um episódio recente envolve um telefonema a Vladimir Putin, que resultou apenas na suspensão temporária de ataques a instalações de energia; horas depois, os russos atacaram uma usina na Ucrânia.
“Curiosamente, Trump parece não ter notado”, observou o comentarista David Blair no Telegraph. “Mais uma vez, Putin ignorou um pedido público de Trump – desta vez por um cessar-fogo abrangente – sem sofrer consequências.”
RISCOS DE RECESSÃO
Jornais responsáveis geralmente refletem tendências mais amplas. Alguns analistas começam a destacar uma perda de confiança dos mercados em Trump, embora seja prudente não interpretar movimentos temporários das bolsas como uma indicação definitiva. Contudo, não se pode desconsiderar alertas como o de Mark Zandi, da Moody’s, que afirmou que “os riscos de recessão estão desconfortavelmente altos e aumentando”, uma situação gerada pela política econômica.
Outro ponto crítico, amplamente destacado nas análises sobre o governo, foi a declaração do presidente da Suprema Corte, John Roberts. Em uma manifestação excepcional, ele criticou, com uma linguagem cuidadosa mas firme, propostas de impeachment de juízes que tomam decisões contrárias a ações questionáveis do governo, como a deportação de criminosos estrangeiros, especificamente os venezuelanos do Tren de Arágua enviados para El Salvador, em desacordo com uma ordem judicial.
Roberts, um juiz conservador, é alvo de críticas por parte da esquerda. Em um comentário exacerbado, um veículo de comunicação mencionou que ele “preparou o caminho para os Estados Unidos se tornarem um estado autoritário” ao decidir a favor da imunidade de Trump durante seu primeiro mandato.
Uma pequena fração do Partido Republicano sempre teve uma postura crítica em relação a Trump, mas as vozes que se juntaram ao debate recentemente possuem um peso maior por não terem sido parte do discurso predominante.
INIMIGOS EMPODERADOS
No debate sobre segurança, pesa a intenção de desmantelar a Otan, a aliança militar criada para preservar a hegemonia americana. De acordo com as mais recentes informações, os Estados Unidos estariam dispostos a abdicar de nomear um comandante supremo para as forças aliadas na Europa, o que, segundo um ex-comandante, o almirante da reserva James Stavridis, seria “um erro político de proporções épicas.”
Alguns comentaristas também observam que ameaças retóricas, como as direcionadas ao Hamas e ao Irã, podem se tornar perigosamente vazias.
Se o presidente dos Estados Unidos faz ameaças sem que ocorram consequências reais, os alvos dessas ameaças podem sentir-se mais confiantes ou empoderados, de acordo com a terminologia contemporânea. Existe a preocupação de que Trump, após um intenso período de atividade relacionado a Gaza e à Ucrânia no início de seu governo, possa perder o interesse e se concentrar em outras questões. Essa mudança de foco não seria benéfica para os interesses dos Estados Unidos.