O foco das atenções globais recai sobre os títulos do governo dos Estados Unidos, mas a Argentina vive um momento de grande definição. Caso muitos cidadãos comecem a adquirir dólares no primeiro dia em que o controle cambial é suspenso, a cotação da moeda pode alcançar a cifra de 1,4 mil pesos, enquanto a administração de Javier Milei poderá enfrentar um cenário de queda, potencialmente desencadeando uma crise semelhante às diversas que o país já enfrentou anteriormente.
A história do país se presenta como um obstáculo significativo para Milei. Com uma trajetória marcada por crises de inflação, desvalorização da moeda, esgotamento de reservas e desafios à sua governabilidade, a população argentina carrega uma memória coletiva que impulsiona a busca por dólares como maneira de proteção financeira.
O controle cambial, conhecido como “cepo”, foi suspenso, ainda que com algumas restrições, incluindo a permanência de um imposto de 30% sobre compras no exterior. A expectativa era que a implementação de um câmbio livre trouxesse uma Argentina mais estável e alinhada aos princípios libertários defendidos pelo governo.
Entretanto, uma atmosfera de desconfiança se consolidou. Recentemente, o risco país apresentou forte alta, a inflação voltou a se acelerar e as reservas enfrentaram diminuições preocupantes. Este cenário foi observado com atenção por analistas que destacaram que, apenas alguns meses atrás, a situação financeira do país apresentava indicadores mais favoráveis.
Simultaneamente, a popularidade de Milei também tem enfrentado queda. O apoio da população tem sido fundamental para que ele pudesse implementar cortes drásticos de gastos e celebrar acordos políticos em um ambiente que, em outras circunstâncias, poderia ser hostil a tais medidas.
Pesquisas recentes revelaram que a taxa de aprovação ao presidente caiu para 45,8%, enquanto a desaprovação alcançou 51,5%. Fatores como a exaustão com as medidas drásticas, a persistência da inflação alta e o temor de uma nova alta no dólar influenciam essa mudança no apoio popular.
Todos os setores empresariais do país manifestaram apoio à suspensão do controle cambial. Milei enfatizou as conquistas do governo, afirmando que, após um ano desafiador, foi possível concluir o ajuste macroeconômico em pilares fundamentais, como ordem fiscal e monetária.
Entretanto, o caminho para a recuperação econômica pode ainda apresentar desafios substanciais. O acordo de 30 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi um aspecto central na suspensão do controle cambial, mas engloba uma série de requisitos, incluindo reformas no sistema tributário e desregulamentações.
Com a nova realidade de compra de dólares a partir de agora, o impacto da retirada do controle será observado. A expectativa é se a busca por dólares, considerado um ativo de grande valor, prevalecerá sobre a confiança na administração de Milei ou se o valor da moeda se estabilizará.
Na última tentativa de suspender o controle cambial, sob a presidência de Mauricio Macri, a falta de controle levou a uma recriação do sistema de controle de câmbio. Assim, a figura de Milei se consolidou como um ícone do ultraliberalismo, e as reações a qualquer acontecimento na Argentina são frequentemente vistas sob essa ótica, ignorando as nuances e complexidades da situação.