Antes do desfile de cruise 2026 da Dior, em Roma, a diretora de criação Maria Grazia Chiuri acolheu convidados no Teatro della Cometa. Esse espaço, que passou por restauro, foi financiado pela estilista e sua família, buscando resgatar o legado da condessa Anna Laetitia Pecci-Blunt, conhecida como Mimi, que também investiu nas artes na década de 1950.
O evento principal ocorreu no jardim da Villa Albani Torlonia, um palácio do século XVIII que abriga a renomada coleção Torlonia de esculturas gregas e romanas. Os convidados seguiram um código de vestimenta em preto e branco: os homens em preto e as mulheres em branco. A inspiração para essa escolha remete ao Bal Blanc, festa icônica da condessa, que contou com registros fotográficos de Man Ray.
A coleção apresenta uma palete de cores semelhantes, com detalhes em dourado e vermelho, refletindo a evolução da vestimenta e da história da moda. Ao contrário da apresentação em março, que seguiu uma narrativa cronológica, desta vez a abordagem é mais diversificada, misturando elementos de fantasia e realidade. Itens da coleção cruise 2026 foram integrados ao inverno 2026 da alta-costura, mostrando a fusão entre prêt-à-porter e alta-costura.
O vestuário masculino inclui fraques e coletes combinados com saias longas, além de jaquetas militares acompanhadas de blusas e capas inspiradas em vestimentas clericais. Plissados e drapeados remetem a trajes antigos, enquanto o uso de veludo faz eco a looks icônicos de Anita Ekberg em La Dolce Vita. Os vestidos variam de rendas delicadas a peças bordadas, evocando criações notáveis de Chiuri, como aqueles fluídos e transparentes, juntamente com modelos clássicos da marca, como o Junon de 1949.
Durante o desfile, aqueles que tentaram assistir online se depararam com um curta-metragem de Matteo Garrone, que explora a intersecção entre passado e presente, inspirando-se no filme Fantasmas em Roma. O vídeo apresenta novas criações ao lado de interpretações de figurinos de clássicos do cinema italiano. A produção contou com a colaboração da casa Tirelli, responsável pelos figurinos originais e pelos ateliês de alta-costura da Dior.
A fusão de elementos reais e fantásticos é uma característica central do neorrealismo, movimento que teve figuras como Federico Fellini e Pier Paolo Pasolini como expoentes. Desde sua chegada à Dior, Maria Grazia tem explorado essa tensão entre opostos, refletindo um equilíbrio especial nas coleções de alta-costura e nas estações intermediárias, onde as demandas técnicas e conceituais coexistem de maneira significativa.
