A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortes, amplamente identificada pelas iniciais AOC, está expressando ambições elevadas. Recentemente alcançou a idade mínima para se candidatar à presidência, 35 anos, e já está realizando uma turnê nos Estados Unidos, que remete a campanhas presidenciais tradicionais.
O perfil de AOC, uma mulher carismática e que frequentemente provoca reações da ala conservadora, é comparável ao de outros líderes políticos de destaque. Seu mentor, o senador Bernie Sanders, um veterano da esquerda que também se declara socialista democrático, passa a cena política principal para ela. AOC ocupa agora um papel destacado em eventos batizados de “Combater a Oligarquia”, onde adota um visual característico: jeans e camisa branca, simbolizando sua conexão com o povo.
Apesar de suas declarações de apoio aos desfavorecidos, o uso frequente de jatinhos particulares atrai críticas e comentários sobre a hipocrisia. Entretanto, seus apoiadores parecem indiferentes a isso, tendo conseguido arrecadar mais de um milhão de dólares em três meses, um feito notável. Analistas políticos estimam que a “ala Sanders” detém aproximadamente 20% do apoio dentro do Partido Democrata, uma base robusta para AOC iniciar sua jornada.
A possibilidade de AOC concorrer à presidência é amplamente considerada, especialmente quando comparada a grandes nomes do partido como Kamala Harris e Gavin Newsom, este último beneficiado pelo fato de a Califórnia ter se tornando a quarta maior economia do mundo, com um PIB de 4,1 trilhões de dólares.
Os 75 milhões de votos obtidos por Kamala nas últimas eleições consolidam sua relevância política, conforme revelam pesquisas que mostram que 27,5% dos eleitores democratas a escolheriam para a candidatura em 2028. AOC, no entanto, não fica atrás, com 21,3% das preferências. Ambas as figuras políticas têm se destacado ao utilizar o discurso identitário, com Kamala sendo filha de um pai negro e uma mãe indiana, enquanto AOC, de ascendência porto-riquenha, tem experiência em empregos comuns, como garçonete.
A formação de AOC em relações internacionais e economia pela Universidade de Boston é muitas vezes usada para criticar suas falhas ao se referir, por exemplo, a Milton Keynes, uma confusão que envolve visões econômicas opostas de pensadores como Milton Friedman e John Maynard Keynes.
As redes sociais estão repletas de vídeos que documentam os deslizes de AOC, mas seus apoiadores parecem não se importar. A proposta de “taxar os ricos”, um dos pilares de sua plataforma política, ressoa bem entre o público jovem e de classe média inclinada à esquerda. Contudo, a viabilidade de sua candidatura dependerá, em grande medida, do desempenho do governo atual de Donald Trump.
Atualmente, o cenário parece negativo: a economia está sob pressão devido ao aumento das tarifas, o risco de inflação e a falta de adiantamentos em crises internacionais. Uma pesquisa recente da ABC revela altos índices de desaprovação, com 55% dos entrevistados contra 42% de aprovação. A economia, que foi um argumento-chave para a eleição, tem 61% de desaprovação, enquanto 64% rejeitam as tarifas aumentadas.
Se a tendência continuar, a insatisfação pode favorecer uma reviravolta, na qual o Partido Democrata poderia recuperar força e novos candidatos surgiriam para a eleição de 2028. AOC terá que se esforçar para se destacar nesse meio. Sua experiência em mobilizações contra Trump demonstra sua capacidade de se posicionar.
Por outro lado, análises indicam que os democratas perderam apoio ao se focar em lutas identitárias, afastando eleitores tradicionais devido a posições consideradas impopulares, como a inclusão de mulheres trans em esportes femininos, investimentos exorbitantes em energia verde e uma política de imigração liberal.
A perspectiva para 2028 é incerta, permitindo especulações arriscadas, mas, caso surja uma oportunidade para a ala esquerda, AOC certamente se destacará.