Os australianos foram às urnas neste sábado (2) em uma eleição nacional marcada por preocupações com o custo de vida. A observação internacional está atenta a possíveis indicações de uma mudança política inspirada por tendências conservadoras, semelhantes ao que ocorreu nos Estados Unidos com Donald Trump. O primeiro-ministro Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, enfrenta o Partido Liberal, liderado por Peter Dutton, que promete restabelecer a estabilidade após três anos na oposição. Embora pesquisas de opinião tenham favorecido o Partido Trabalhista, o sistema de votação preferencial da Austrália e a recente diminuição da influência dos partidos tradicionais dificultam previsões sobre a nova composição dos 150 membros da Câmara dos Representantes.
Nos últimos dias, o foco dos eleitores tem sido o desempenho das campanhas, com o governo atuando como um indicativo de continuidade em meio às incertezas econômicas globais. Comparações com a gestão de Trump foram inevitáveis, especialmente em relação à busca por medidas para atenuar a crise do custo de vida. A situação interna também foi influenciada por decisões internacionais, como as tarifas impostas por Trump. Albanese criticou tal postura, afirmando que vai contra a amizade entre os países.
Cerca de metade dos 18 milhões de eleitores registrados votou antecipadamente, e o restante precisará ir às urnas no dia da eleição, uma obrigatoriedade que traz penalidades para quem não comparecer. Os locais de votação costumam se assemelhar a pequenas feiras, onde são comercializadas as chamadas “salsichas da democracia”. Essa prática, que se consolidou ao longo dos anos, tem um mapa online criado por voluntários para ajudar os eleitores a encontrarem esses pontos de venda.
Durante as últimas semanas, os dois principais partidos se empenharam na captação de votos, prometendo cortes de impostos e outras formas de alívio. Historicamente, as eleições australianas são orientadas por temas nacionais, como habitação e saúde, mas a experiência internacional recente também teve um papel significativo neste contexto. Albanese convocou a eleição logo antes de Trump anunciar tarifas, exacerbando a instabilidade nos mercados e gerando receios de recessão.
Dutton, por sua vez, acusou o governo trabalhista de gerar as pressões inflacionárias, questionando se o eleitorado percebia melhorias em sua situação em comparação com três anos atrás. Ambas as partes apresentaram propostas para auxiliar compradores de primeira viagem na aquisição de imóveis, mas especialistas alertam que tais medidas podem levar a um aumento nos preços dos imóveis.
Desta vez, o eleitorado jovem deve superar o de mais idade, o que pode prolongar o declínio do sistema bipartidário, resultando em mais votos para partidos independentes. As redes sociais desempenharam um papel fundamental na mobilização desse público, com a presença crescente do Instagram e TikTok. Entretanto, a fragilidade das regulamentações sobre a veracidade das campanhas permitiu a divulgação de informações enganosas, culminando em uma enxurrada de materiais de ataque contra candidatos em diversas localidades.
Os candidatos independentes, conhecidos como “Teal”, que surgiram nas últimas eleições, também devem ser observados atentamente. Esses candidatos, que defendem questões como integridade e ação climática, estão novamente em campanha. O governo atual já se comprometeu com metas de emissão zero, embora as críticas persistam pela continuação de projetos de carvão e gás. O Partido Liberal, em resposta às demandas energéticas, propôs a construção de usinas nucleares, um planejamento controverso em termos de viabilidade e financiamento.
No dia da eleição, não se esperava promessas mais ousadas por parte do Partido Trabalhista em relação à ação climática, mesmo diante de apelos de ativistas. O fechamento das urnas estava programado para as 18h na costa oeste, e as expectativas sobre os resultados giravam em torno da possível conquista da maioria por um dos principais partidos. Além disso, 40 das 76 cadeiras do Senado também estavam em disputa, substituindo senadores que completam seus mandatos de seis anos.
