Um grupo de reservistas da unidade de inteligência militar de elite de Israel fez um apelo pelo retorno urgente dos reféns em Gaza, mesmo que isso signifique a interrupção imediata da guerra. Esse pedido reflete o aumento de movimentos de protesto após mais de 18 meses de conflito. A carta pública, que conta com mais de 250 assinaturas, argumenta que a guerra atualmente atende mais a interesses políticos individuais do que a questões de segurança.
Os signatários afirmam que a continuidade do conflito não avança em direção a nenhum dos objetivos propostos, ocasionando a morte de reféns, soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF) e civis inocentes. A manifestação foi elaborada por reservistas e veteranos da Unidade 8200, que é a maior unidade de inteligência militar do país, e questiona os planos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu relacionados à supressão do Hamas e à recuperação dos 59 reféns ainda em Gaza.
A permanência de Netanyahu no cargo está atrelada ao apoio de parceiros de coalizão de partidos da extrema-direita, que ameaçaram sair do governo se a guerra for encerrada. A carta critica a falta de responsabilidade do governo em relação à situação atual, afirmando que não existe uma estratégia ou solução clara para a crise. Os autores destacam que se juntam ao apelo das tripulações da força aérea, pedindo a todos os cidadãos israelenses que pressionem por ações imediatas em favor do retorno dos reféns e do cessar-fogo.
A nova onda de protesto surgiu um dia após a publicação de uma carta semelhante por centenas de veteranos e reservistas da força aérea em jornais de destaque em Israel, afirmando que a guerra atende, na verdade, a interesses políticos e não a objetivos de segurança. O exército de Israel é constituído por um contingente de soldados ativo relativamente pequeno, dependendo em grande medida dos reservistas durante períodos prolongados de conflito. Um aumento no movimento de protesto entre esses reservistas pode impactar a capacidade das Forças de Defesa de Israel de manter uma ofensiva duradoura em Gaza.
Embora as cartas manifestem descontentamento com a guerra, os signatários não se negam a servir. Após a divulgação da primeira carta, o Exército de Israel dispensou os reservistas da força aérea que assinaram o documento e está revisando as assinaturas para identificar quantos ainda estão ativos. Um oficial das IDF declarou que a maioria dos signatários não integra o corpo de reservistas ativos.
O comandante da Força Aérea de Israel criticou a carta, manifestando que as mensagens contidas no documento demonstram falta de confiança e podem prejudicar a coesão interna da força. Ele afirmou que publicações desse tipo não são apropriadas durante uma guerra, em que os soldados e comandantes arriscam suas vidas.
O primeiro-ministro Netanyahu retratou a nova carta de protesto como um movimento de uma minoria sem relevância, alegando que foi redigida por um pequeno grupo influenciado por organizações financiadas do exterior. Ele não apresentou evidências das suas alegações sobre a influência externa nos protestos. Contudo, a declaração de Netanyahu reconheceu que os protestos estão surgindo de diferentes divisões das Forças Armadas, incluindo uma antecipada carta de apoio da marinha.
Apesar de suas tentativas de deslegitimar os apelos, pesquisas recentes indicam que quase 70% da população israelense é favorável ao fim da guerra para viabilizar a libertação dos reféns. O primeiro-ministro minimizou a importância das cartas, classificando os protestos como manifestações de um grupo barulhento, anarquista e desconectado da realidade.
A estratégia de desestímulo aos protestos parece ser uma tentativa de conter o crescente descontentamento entre reservistas e evitar uma repetição de 2023, quando muitos deles se declararam dispostos a não servir em resposta às tentativas de reforma judicial de Netanyahu. Na ocasião, a maioria desses reservistas acabou atendendo aos chamados após a ofensiva de Israel em 7 de outubro, mas a unidade começou a se fragilizar à medida que o conflito se prolongou.