O executivo do setor de energia limpa, Cary Kottler, foi impactado pela tempestade de inverno Uri, que atingiu o Texas com temperaturas extremamente baixas em 2021. Durante esse evento, a temperatura interna de sua residência ficou ligeiramente acima de zero, resultando na morte do peixe dourado da família no aquário. Embora Kottler tenha sobrevivido à tempestade, mais de 200 texanos perderam a vida, enquanto milhões ficaram sem eletricidade por dias.
Atualmente, a empresa de Kottler, a Pattern Energy, está prestes a iniciar a construção de uma significativa linha de transmissão que ligará o Texas à rede elétrica do leste dos Estados Unidos. Essa conexão teria sido crucial para fornecer eletricidade ao estado durante a tempestade. Segundo Kottler, uma linha como essa poderia ter permitido a importação de energia do sudeste, onde há uma abundância de eletricidade disponível.
Essa nova linha de transmissão exemplifica uma necessidade urgente identificada por autoridades e especialistas em energia nos Estados Unidos: a construção de linhas elétricas de alta voltagem. Essas linhas são essenciais para o transporte eficiente de grandes quantidades de energia entre diferentes regiões, especialmente diante do aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos que afetam a rede elétrica do país. Em 2023, fortes tempestades já causaram cortes de energia significativos, afetando quase 11 milhões de consumidores no sudeste.
A ex-comissária da Comissão Federal de Regulação de Energia, Allison Clements, destacou a importância de ter uma rede elétrica capaz de atender à demanda, especialmente em condições climáticas severas. Quando fenômenos como frentes frias extremas ou ondas de calor ocorrem, a necessidade de eletricidade pode superar a oferta local, tornando vital a importação de energia de regiões não afetadas por essas condições.
Com as mudanças climáticas provocando um aumento na intensidade e frequência de eventos extremos, tanto autoridades quanto especialistas pedem uma expansão significativa da infraestrutura elétrica. Essa ampliação não é motivada apenas pelo clima, mas também pela crescente demanda por eletricidade, impulsionada pelo aumento do uso de centros de dados e inteligência artificial, que são conhecidos por seu alto consumo energético. Além disso, uma quantidade considerável de energia limpa, gerada a partir de fontes solares e eólicas, ainda não foi integrada à rede.
Especialistas afirmam que a atual rede elétrica dos Estados Unidos é ultrapassada e possui diversos pontos fracos. O sistema existente, com mais de 60 anos, poderia ser comparado ao uso de uma tecnologia obsoleta em um ambiente moderno. A infraestrutura elétrica é dividida em três grandes redes: as interconexões leste e oeste e a rede independente do Texas, com várias interconexões regionais menores, todas sujeitas a fragilidades.
A proposta de melhorias implica uma expansão substancial da rede atual, que deve ser duas a três vezes maior, além de maior conectividade entre regiões. Essa rede reformulada precisa também ser mais resiliente a eventos climáticos adversos. A maior parte dos apagões resulta de problemas de distribuição e danos físicos em linhas menores.
Situações como incêndios florestais, furacões e tempestades intensas demonstram o interesse do setor de energia em reforçar sua infraestrutura. Em resposta a essa necessidade, o governo anunciou um investimento significativo em projetos de resiliência elétrica. Além de substituições de postes e melhoria na infraestrutura, a adaptação das linhas elétricas para responder rapidamente a mudanças na demanda é considerada uma prioridade.
No entanto, Clements alerta que, mesmo com uma rede mais robusta, desafios significativos provocados pelas mudanças climáticas persistirão, à medida que desastres naturais como inundações apresentem problemas únicos. Parte do financiamento federal será destinada à elevação de subestações em áreas costeiras para minimizar os riscos de inundações. Esses investimentos são essenciais, especialmente em estados que enfrentam ondas de calor severas, como Califórnia e Texas, onde cada passo em direção à resiliência é crítico.
