O universo está se expandindo de forma acelerada, e a energia escura é o termo utilizado para descrever a força invisível que impulsiona esse crescimento. Sua origem continua a ser um enigma, mas as estimativas indicam que aproximadamente 70% do universo é constituído por essa energia, a qual exerce um efeito oposto ao da gravidade, promovendo o afastamento entre as galáxias. Inicialmente, acreditava-se que essa força se mantinha constante ao longo do tempo. Entretanto, novos dados obtidos pelo Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI), um dos maiores projetos de mapeamento do universo, sugerem que ela pode estar mudando ao longo de bilhões de anos.
Os pesquisadores do DESI analisaram dados coletados nos primeiros três anos de funcionamento, abrangendo quase 15 milhões de galáxias e quasares — núcleos de galáxias altamente luminosas e distantes, que são alimentadas por buracos negros de grande massa. A comparação destas informações com outros dados cósmicos revelou um padrão inesperado: a influência da energia escura pode estar diminuindo ao longo do tempo.
O DESI, que opera no telescópio Mayall, localizado no Arizona, possui a capacidade de capturar a luz de 5.000 objetos celestes simultaneamente. Através desta tecnologia, os astrônomos conseguiram elaborar o maior mapa tridimensional do universo até agora, possibilitando a análise da influência da energia escura nos últimos 11 bilhões de anos. Em uma animação associada, pode-se observar a Terra no centro, com cada ponto representando uma galáxia.
Quando analisados isoladamente, os dados do DESI se alinham com o modelo padrão da cosmologia, denominado Lambda-CDM, que considera a energia escura uma força constante. Contudo, ao serem combinados com medições adicionais, começam a surgir discrepâncias. Pesquisadores como Will Percival, da Universidade de Waterloo, indicam que, apesar de a explicação mais simples geralmente ser a correta, os dados recentes sugerem que o modelo padrão pode necessitar de revisões, e que a ideia de uma energia escura variável ao longo do tempo parece viável.
Ainda não há confirmação sobre essa possível mudança, uma vez que os cientistas buscam alcançar um nível de confiança denominado “5 sigma”, que assegura uma margem de erro mínima para validar descobertas. Entretanto, os dados recentes já atingiram valores entre 2,8 e 4,2 sigma, levantando questionamentos sobre a teoria tradicional. Esse cenário pode indicar que o universo é mais complexo do que se imaginava.
Para estudar a expansão do cosmos, os cientistas utilizam uma técnica chamada oscilações acústicas de barions (BAO), que atua como uma régua cósmica para medir a distribuição da matéria no espaço. Os resultados obtidos sugerem que a energia escura pode ter sofrido pequenas alterações ao longo de bilhões de anos.
Pesquisadores como Andrei Cuceu, do Laboratório Nacional de Berkeley, nos Estados Unidos, afirmam que desejam ouvir o que o universo tem a compartilhar, e que talvez ele esteja revelando uma complexidade maior do que se acreditava. Além disso, a precisão das novas medições aumentou duas vezes em relação à primeira análise do DESI feita há menos de um ano, o que fortalece a confiança dos cientistas de que os resultados não são meras coincidências.
Os achados recentes abrem possibilidades para novas explicações sobre a energia escura. Michael Levi, diretor do DESI, afirma que, independentemente da verdadeira natureza da energia escura, ela determinará o futuro do universo. É fascinante considerar que é possível observar o céu enquanto se busca respostas para uma das grandes questões da humanidade.
O DESI ainda possui um período de operação de dois anos e os cientistas esperam mapear 50 milhões de galáxias e quasares até que o projeto seja concluído. Ademais, novos experimentos científicos estão em fase de desenvolvimento para investigar essas descobertas e colaborar na redefinição do entendimento sobre o cosmos.