11 fevereiro 2025
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Entenda a ‘Guerra do Aço’ que Domina o Mundo na Última Década!

A República Popular da China se destaca como a maior produtora de aço do planeta.

Recentemente, a política econômica dos Estados Unidos, sob a liderança do presidente Donald Trump, mostrou uma nova fase de proteção comercial, com a proposta de imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. Essa proposta não faz distinção entre aliados e rivais comerciais.

Se implementadas, essas tarifas representarão um reforço das medidas já tentadas durante o primeiro mandato de Trump. No entanto, a preocupação com a proteção da indústria nacional de aço não é uma questão exclusiva dos Estados Unidos. Nos últimos dez anos, globalmente, tem-se observado uma intensificação da chamada “Guerra do Aço”, que tem como um dos principais responsáveis a política industrial da China.

Diversos países, além dos EUA, estão considerando ou já implementaram medidas para conter a entrada de aço chinês em seus mercados. Isso inclui nações da Ásia, da América Latina — com destaque para o Brasil — e também países da União Europeia, que buscam fortalecer suas indústrias siderúrgicas.

De acordo com a World Steel Association, a produção global de aço atingiu cerca de 1,8 bilhão de toneladas em 2024, sendo que mais de 1 bilhão dessa produção é atribuída à China. Desde a pandemia, a economia chinesa passou por uma desaceleração e crise no setor imobiliário, levando a uma redução na capacidade de consumo interno desse metal. Isso resultou em um excesso de oferta e preços baixos, que têm saturado outros mercados ao longo dos anos.

Conforme explica uma economista especializada no setor, o cenário atual é uma consequência dos significativos investimentos realizados pela China para aumentar sua capacidade produtiva, que iniciaram no começo dos anos 2000 e se estenderam até a década de 2010. Apesar do recente arrefecimento nessa expansão, os efeitos globais ainda são enfrentados.

Inicialmente, o aço produzido era predominantemente direcionado para o mercado interno chinês, especialmente para o robusto crescimento do setor da construção civil. Entretanto, a diminuição nos investimentos e a diminuição do início de novas obras resultaram em um excesso de aço.

A produção de aço na China em 2000 era de aproximadamente 128,5 milhões de toneladas. Desde então, houve um crescimento de 700%, com mais de 2 mil fábricas localizadas em todo o país. Assim, a estratégia de exportação da China se intensificou. Dados do International Trade Administration indicam que, entre 2022 e 2023, o volume de aço exportado pela China cresceu 39%, com 226 países figurando na lista de compradores.

Enquanto a China expandia sua produção, as indústrias siderúrgicas nos Estados Unidos e na Europa começaram a contrair, o que amplificou a influência chinesa nesse setor. Atualmente, muitos governos estão em busca de recuperar suas indústrias siderúrgicas, incluindo aqueles da Europa, Ásia Meridional e América.

No Brasil, a indústria siderúrgica fez um esforço significativo para que o governo implementasse tarifas mais estritas sobre o aço chinês, embora somente algumas dessas solicitações tenham sido aceitas, resultando em tarifas e cotas apenas para certos produtos.

As tarifas, no entanto, podem não representar uma solução eficaz. A aplicação dessas medidas sobre as importações de aço e alumínio pode trazer à tona novos desafios. Historicamente, conforme observado em 2018, estima-se que milhares de empregos em empresas que produzem produtos derivados de aço e alumínio possam ser perdidos. Isso ocorre por conta da expectativa de que os preços internos aumentem.

Atualmente, a capacidade da indústria siderúrgica americana é insuficiente para satisfazer totalmente a demanda interna. De acordo com informações do Instituto Americano de Ferro e Aço, cerca de 74% do consumo total nos EUA é produzido internamente.

A imposição de tarifas pode, a curto prazo, potencializar a pressão inflacionária, uma vez que o aumento da capacidade produtiva das fábricas não ocorre imediatamente. A médio e longo prazo, pode haver uma mudança, mas, no presente, ainda há forte dependência das importações.

Recentemente, a dependência dos EUA em relação ao aço chinês diminuiu em 15% entre 2023 e 2024, posicionando a China apenas como a 10ª maior exportadora desse produto. O Brasil, por sua vez, mantém a terceira posição nesse ranking.

Enquanto nos Estados Unidos a principal consequência das tarifas pode ser uma significativa pressão inflacionária, globalmente espera-se o desenvolvimento de uma nova fase da “Guerra do Aço”. Com as fronteiras comerciais americanas fechadas, outros produtores importantes também enfrentarão desafios, resultando em um excesso de produto disponível a preços acessíveis em mercados internacionais.

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