sábado, fevereiro 8, 2025
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Entenda a Perspectiva do Promotor sobre a Implementação da Torcida Única

O recente episódio de violência entre torcidas organizadas de Santa Cruz e Sport, ocorrido no dia 1º de setembro, reacende as discussões sobre a necessidade de medidas de segurança nos estádios brasileiros. Antes do clássico pernambucano, diversas áreas de Recife foram cenário de confrontos violentos entre torcedores, resultando em pelo menos 13 feridos e 14 detenções. Cenas alarmantes de espancamentos e depredações foram registradas em vídeos. Como resposta a essa situação, o governo estadual impôs a proibição da presença de torcedores nos cinco próximos jogos dos clubes, uma decisão que posteriormente foi suspensa pela Justiça, que optou pela implementação de torcida única nos próximos confrontos em Pernambuco.

A eficácia da medida de torcida única, já em vigor em São Paulo desde 2016, levanta questionamentos sobre sua capacidade de conter a violência. Para analisar o impacto da torcida única e discutir soluções viáveis para esse desafio, especialistas foram consultados. Paulo Castilho, promotor de Justiça com mais de 20 anos de experiência no combate à violência nos estádios, avaliou a situação em Recife e destacou caminhos que o Brasil pode seguir para enfrentar a questão.

Castilho aponta que a violência observada em Recife não é um evento isolado, mas sim um reflexo de um problema grave de segurança pública que inclui a presença de criminosos nas torcidas organizadas. A repetição desses episódios de violência no futebol brasileiro indica a falta de ações efetivas. Ele salienta que o principal desafio reside na identificação e punição dos infratores, destacando que atualmente um torcedor envolvido em atos violentos pode mudar de estado e continuar a frequentar jogos sem ser penalizado. A ausência de um sistema unificado de controle é um obstáculo significativo para estratégias de segurança.

Em relação à torcida única, Castilho considera que essa medida pode ajudar a mitigar a violência nos estádios, mas destaca que não é uma solução definitiva. Os confrontos em Recife ocorreram antes da partida, demonstrando que a violência já havia sido planejada independentemente da configuração do estádio. Ele cita que a torcida única resultou em uma diminuição considerável da violência nos clássicos paulistas, com uma redução de 95% a 97% desde sua implementação, eliminando atos de depredação e homicídios associados a dias de jogos.

Para o estado de Pernambuco, a aplicação da torcida única pode ser um passo na direção certa, mas é essencial que haja comprometimento com o cadastramento de torcedores, utilização de tecnologia de reconhecimento facial e punições severas para inibir as brigas. Castilho acredita que em clássicos de grande risco, a torcida única deveria ser a norma, citando casos trágicos de violência que poderiam ter sido evitados com essa medida. Para um combate efetivo à violência nas torcidas, um sistema rigoroso de identificação dos torcedores é crucial, similar ao que é praticado em alguns países europeus.

Quanto à responsabilidade dos clubes e federações em relação à violência das torcidas organizadas, Castilho afirma que ambos devem ser responsabilizados, já que muitas vezes oferecem ingressos e apoio a torcidas envolvidas em atos violentos. Embora exista reconhecimento da presença de torcedores pacíficos, a infiltração de criminosos nessas organizações é um fator preocupante que precisa ser abordado.

A urgência de uma mudança no cenário atual é evidente. Faltam ações efetivas e vontade política para garantir que as leis sejam aplicadas. É necessário estabelecer um plano nacional de combate à violência nos estádios que não dependa de alterações governamentais, com um comprometimento contínuo e uso de tecnologia. O sucesso da redução da violência em São Paulo serve como um modelo que pode ser replicado em outros estados, desde que haja seriedade na abordagem do tema.

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