sexta-feira, janeiro 31, 2025
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Erupção Solar que levou a oferendas em culturas antigas

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Há aproximadamente 4.900 anos, uma erupção vulcânica teve um impacto tão significativo que temporariamente obscureceu o Sol, alterando drasticamente o modo de vida dos povos neolíticos no norte da Europa. Essa catástrofe trouxe medo e incerteza para as comunidades agrícolas que dependiam da luz solar para sua subsistência. No que hoje é a ilha de Bornholm, na Dinamarca, as evidências arqueológicas sugerem que os residentes da época responderam a essa adversidade por meio de práticas religiosas incomuns. No sítio arqueológico de Vasagård, que era um espaço ritual conectado ao Sol durante os solstícios, os arqueólogos descobriram mais de 600 “pedras do sol” — pequenas rochas esculpidas com linhas que irradiam do centro, lembrando raios solares. A razão pela qual essas pedras foram “sacrificadas” permaneceu um enigma até que uma pesquisa recente revelasse os propósitos por trás desse ritual.

As “pedras do sol”, que foram enterradas em valas junto a restos de ossos de animais, fragmentos de cerâmica e ferramentas de sílex, são sinais de rituais que envolviam sacrifícios. De acordo com um arqueólogo da Universidade de Copenhague, essas pedras foram depositadas de maneira deliberada em áreas que possuíam calçadas e que estavam associadas a celebrações de rituais, por volta de 2900 a.C. Essa dedicação meticulosa na confecção dos artefatos sugere que eles tinham um significado espiritual. O arqueólogo aponta que os rituais poderiam ter sido uma tentativa de apaziguar forças sobrenaturais ou, alternativamente, agradecer pelo eventual retorno da luz solar.

Para compreender o contexto natural dos achados arqueológicos, os pesquisadores realizaram uma análise dos registros geológicos da época. O estudo de núcleos de gelo retirados da Groenlândia revelou uma camada de sulfato correspondente a cerca de 2900 a.C., tempo em que ocorriam grandes eruções vulcânicas. Sedimentos encontrados em lagos na Alemanha e os anéis de crescimento de árvores nos Estados Unidos indicam um período de resfriamento e redução da luminosidade similar. Tal magnitude de erupções vulcânicas pode ter efeitos devastadores: as temperaturas caem, a luz solar diminui, as colheitas fracassam, levando à escassez de alimentos. Para uma sociedade que dependia diretamente do ciclo solar para sua agricultura e sobrevivência, essas alterações climáticas constituíam uma real ameaça existencial.

As alterações climáticas extremas não apenas impactaram os rituais em Vasagård, como também parecem ter provocado transformações na organização do local. Depois do depósito das pedras do sol, a estrutura do sítio foi reconfigurada: as valas de sacrifício foram substituídas por paliçadas e por casas de culto com formato circular. Essa nova configuração ocorreu em um período que também foi marcado por surtos de doenças e grandes movimentações migratórias na Europa, sugerindo um tempo de adaptação social intensa.

As razões exatas para essas transformações permanecem incertas, mas é provável que as mudanças climáticas tenham desempenhado um papel crucial nesse processo, de acordo com especialistas. Os achados em Bornholm oferecem um olhar sobre como as culturas neolíticas reagiram a desastres naturais e às transformações climáticas. Eles evidenciam que, mesmo em tempos de incerteza e temor, as comunidades buscavam maneiras de se conectar com o cosmos e encontrar significado nas forças naturais ao seu redor.

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