A trajetória de Talia Byre está intrinsecamente ligada a uma rica árvore genealógica. Talia Lipkin-Connor, fundadora e única designer da marca de moda que leva seu nome, destaca a influência de sua família, composta por costureiros e designers renomados. Contudo, ao longo dos últimos 80 anos, o cenário da moda britânica tem enfrentado significativas transformações, exigindo que ela construa sua identidade no setor a partir do zero. Até o momento, a designer tem conseguido expandir seu projeto. Em cinco anos, sua marca ganhou espaço em lojas de prestígio, como Browns Fashion, Farfetch e SSENSE, e foi recentemente selecionada para o renomado BFC/Vogue Designer Fashion Fund. Além disso, ela revelou sua coleção de Outono-Inverno 2025 durante a Semana de Moda de Londres.
Em seu estúdio localizado no East London, Lipkin-Connor inicia a documentação de sua herança familiar. “Havia três irmãos”, compartilha enquanto faz anotações. Seu bisavô, Saul, e seus dois tios-bisavós, Sam e Campbell, foram proprietários de três alfaiatarias em Liverpool entre as décadas de 1930 e 1980, conhecidas como The Abrams Brothers, um ícone da moda masculina local e que, inclusive, recebeu os Beatles durante seus primeiros shows no lendário Cavern Club. Apesar das memórias desses tempos, Lipkin-Connor menciona a dificuldade em descobrir mais sobre a história familiar devido à passagem do tempo. “Minhas tias-avós frequentemente comentam, ‘Você não se lembra disso?’ e eu fico pensando que isso ocorreu 70 anos antes de eu nascer”, relata.
O legado de sucesso da família continuou durante os anos 60, especialmente com seu tio-avô Ralph, que se destacou no setor de moda feminina. Ralph fundou a boutique Lucinda Byre, que comercializava roupas de diversas marcas, incluindo a renomada estilista Mary Quant, em Liverpool. A boutique rapidamente se tornou um ponto de referência no norte da Inglaterra, e Lipkin-Connor ressalta que eles foram pioneiros na venda de marcas como Vivienne Westwood e Mulberry. As reminiscências desse negócio ainda perduram, com algumas peças tendo sido encontradas em brechós, enquanto a designer herda clientes que compartilham momentos marcantes relacionados às roupas compradas na Lucinda Byre.
Atualmente, a indústria da moda britânica enfrenta uma série de desafios, especialmente após o Brexit. Lipkin-Connor observa que os custos crescentes, os baixos salários e a falta de apoio governamental tornam o ambiente de negócios mais complicado. Ela menciona, em conversas familiares, como esses obstáculos têm sido fontes de preocupação. Com o aumento das tarifas de importação e a ausência de reembolsos de VAT para turistas, muitas marcas independentes estão mudando suas operações para Paris ou Milão. Lipkin-Connor destaca que a utilização de fabricantes italianos é uma estratégia para mitigar os altos custos do envio para a União Europeia.
A busca por recursos e apoio financeiro surge como um tema central nas discussões da designer, refletindo a própria luta enfrentada por outros profissionais do setor. Durante a Semana de Moda de Londres, Caroline Rush, CEO do British Fashion Council, alertou para a necessidade urgente de mais investimentos e suporte do governo, enfatizando a identidade criativa única do Reino Unido.
A nova coleção de Lipkin-Connor se inspira em itens da Lucinda Byre. Um exemplo notável é um vestido estampado da marca Cacharel, que sua mãe comprou na boutique. A designer também incorporou malhas vintage em suas criações, atualizando estilos do passado sem se perder na nostalgia. Ao perceber a relevância de sua herança, ela procura manter a coleção contemporânea e alinhada com as tendências atuais.
Com a intenção de reavivar a experiência de compra em lojas físicas, Lipkin-Connor gostaria de oferecer um espaço multifuncional que una showroom, loja e ateliê, onde os consumidores possam vivenciar algo especial. A designer revela que há uma demanda por lugares inovadores para compras, com um possível bar de vinhos sendo uma das ideias sugeridas por um amigo.
Talia Byre, com sua estética contemporânea e estilo arrojado, representa uma harmoniosa fusão entre tradição e modernidade. Ao convidar clientes que conheciam a Lucinda Byre a se conectarem com suas novas criações, Lipkin-Connor estabelece um elo entre o passado e o presente, demonstrando que a estrutura da moda e o perfil de seus consumidores permanecem, mesmo com as mudanças que o tempo traz.
