O Brasil está testemunhando um aumento nos casos de violência nas escolas, conforme dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Fatores como a desvalorização do professorado na percepção da sociedade, a normalização de discursos de ódio e a falta de preparo das secretarias de educação para lidar com conflitos relacionados ao racismo e à misoginia são considerados possíveis explicações para as agressões em instituições de ensino, que resultaram em pelo menos 47 mortes desde 2001.
A pesquisa do Ministério da Educação identifica quatro categorias de violência que impactam a comunidade escolar. O primeiro tipo refere-se a agressões extremas, com ataques letais premeditados; o segundo abrange a violência interpessoal, que inclui hostilidades e discriminação entre alunos e educadores; o terceiro é o bullying, caracterizado por intimidações físicas, verbais ou psicológicas que ocorrem repetidamente. Por último, a violência institucional contempla práticas excludentes na escola, como o uso de material didático que ignora questões de diversidade racial e de gênero. Também são destacados problemas relacionados à segurança do entorno das instituições, como tráfico de drogas, tiroteios e assaltos.
Dados do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania mostram que, em 2013, houve 3,7 mil vítimas de violência interpessoal nas escolas, figure que cresceu para 13,1 mil em 2023. Esse número abrange estudantes, professores e outros membros da comunidade escolar. Dentre esses casos, aproximadamente 2,2 mil se referem à violência autoprovocada, incluindo automutilação, ideação suicida e suicídios, um aumento de 95 vezes nas ocorrências registradas entre 2013 e 2023.
O Atlas da Violência de 2024 revela um aumento na proporção de estudantes que relatam ter sido vítimas de bullying, com dados coletados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde e pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada pelo IBGE. Em 2009, 30,9% dos alunos brasileiros disseram ter sofrido bullying, cifra que atingiu 40,5% em 2019. Além disso, no mesmo ano, 11,4% dos alunos do ensino fundamental relataram não ter comparecido à escola por insegurança, um aumento significativo em relação aos 5,4% de 2009.
Pesquisadores apontam que as declarações de figuras públicas que minimizam a violência contribuíram para a normalização de discursos agressivos e intolerantes, prejudicando a convivência escolar. Outro fator relevante é o aumento da violência doméstica contra crianças e adolescentes. Segundo o Atlas da Violência, a proporção de alunos do ensino fundamental de capitais que se disseram agredidos por familiares subiu de 9,5% em 2009 para 16,1% em 2019.
A desvalorização do magistério, a falta de continuidade nas políticas educacionais e a deterioração da infraestrutura escolar também têm sido citadas como contribuições ao aumento da violência no ambiente educacional. Especialistas enfatizam a presença de preconceitos institucionais no currículo e nas relações pedagógicas, que agravam a situação. As leis que obrigam o ensino da história da África e dos povos indígenas muitas vezes não são seguidas, e alunos que enfrentam racismo ou homofobia não recebem o apoio necessário da gestão escolar.
Um estudo conduzido por um psicólogo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais revelou que um número significativo de diretores escolares não reconhece a violência em suas instituições. Cerca de 40% das escolas afirmaram não ter registrado nenhum tipo de violência, enquanto 20% relataram apenas incidentes de baixa gravidade. Esse descompasso entre a vivência dos alunos e o reconhecimento escolar evidencia a dificuldade em identificar e combater a violência no ambiente escolar.
Os conflitos no ambiente escolar incluem conceitos como bullying, que se refere à intimidação através de agressões físicas ou psicológicas contínuas, e cyberbullying, que ocorre em plataformas digitais. Outro ponto relevante é o clima escolar, que diz respeito às percepções e experiências compartilhadas entre alunos e educadores, influenciado por normas e relações interpessoais. Além disso, existem comunidades on-line que discutem temas perturbadores, como violência e automutilação, e discursos de ódio que promovem hostilidade contra grupos marginalizados.
Com a finalidade de explorar como o bullying e o preconceito se manifestam nas escolas, uma pesquisa coordenada por um psicólogo da Universidade de São Paulo coletou dados de aproximadamente 3 mil estudantes em 89 escolas. Os resultados indicaram que alunos com bom desempenho acadêmico raramente se tornavam vítimas ou autores de bullying, enquanto aqueles que apresentavam dificuldades acadêmicas, mas se destacavam em atividades físicas, podiam ser mais propensos a agredir.