Republicanos nos Estados Unidos fazem pressão por um diálogo direto com o Irã, enquanto até o momento o governo iraniano manifesta a necessidade de conversas mediadas. As autoridades em Teerã qualificam a possibilidade de negociações diretas como “sem sentido”, citando ameaças americanas de uso da força em vez da diplomacia.
Na última segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a intenção de iniciar negociações diretas com o Irã no próximo sábado, com foco no programa nuclear iraniano. Este seria o primeiro encontro formal entre os dois países desde a assinatura do acordo nuclear em 2015. Trump fez essa declaração ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante uma reunião em que discutiram também questões comerciais e o conflito em Gaza. Desde que abandonou o acordo em 2018 e instituiu um regime de sanções, Trump tem pressionado por um diálogo direto.
Após o anúncio, autoridades iranianas reafirmaram sua posição de que não participarão de negociações diretas, preferindo mediação por Omã. Um oficial do governo iraniano, que optou por permanecer anônimo, enfatizou que o diálogo não se dará diretamente.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, as negociações diretas são consideradas improdutivas, dado que os EUA têm ameaçado ações militares, ao invés de se engajar em uma diplomacia eficaz. No entanto, Araqchi reiterou o compromisso iraniano com a diplomacia e a disposição para conduzir conversas indiretas. Em resposta às declarações de Teerã, Trump declarou que haverá uma reunião “muito importante”, afirmando que as negociações diretas ocorrerão.
Trump não revelou a localização do encontro nem se há planos para ações militares em caso de fracasso das conversas, mas lembrou que, se as negociações falharem, “o Irã estará em grande perigo”.
Desde a assinatura do acordo nuclear em 2015, representantes dos EUA e do Irã não se encontram diretamente. Tentativas indiretas de reverter a situação têm ocorrido sob a administração de Joe Biden, sem sucesso. Recentemente, Trump enviou uma carta ao Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei, propondo negociações para um novo acordo que busque evitar a militarização do programa nuclear iraniano. Teerã, por sua vez, nega qualquer intenção de desenvolver armas nucleares. Na semana passada, Trump aumentou a tensão ao declarar que poderia bombardear o Irã caso não se chegasse a um novo acordo.
Essa pressão, no entanto, gerou uma reação negativa no Irã, com o presidente Massoud Pezeshkian questionando a sinceridade de Trump em relação ao diálogo, ao afirmar: “Se ele realmente quer negociar, para que ameaçar?” Durante o evento, Netanyahu manteve-se em silêncio na maior parte do tempo, mas reiterou que qualquer acordo nuclear deve seguir o que chamou de “Modelo da Líbia”, implicando na desmantelação da infraestrutura nuclear iraniana.
Entretanto, as condições na Líbia são distintas, já que muitos equipamentos de enriquecimento atômico estavam intactos antes de serem entregues em 2003. Em contrapartida, a infraestrutura nuclear do Irã opera há décadas e está dispersa pelo país, em grande parte em locais subterrâneos a profundidades consideráveis.