O advogado Eugênio Aragão, com um extenso histórico de serviços ao Partido dos Trabalhadores, surpreendeu ao falar no Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira, 22, representando uma das acusadas de tentativa de golpe após a eleição do presidente Lula em 2022.
Aragão defende Marília de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, que é investigada por supostamente ter colaborado com Silvinei Vasques, então diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na criação de barreiras que dificultaram o voto dos eleitores de Lula no segundo turno. Naquele período, Eugênio Aragão atuava como advogado da campanha petista e também já havia sido ministro da Justiça no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Além das obstruções nas vias, Marília é alvo de investigações por sua suposta inação durante os ataques de 8 de janeiro, quando estava na subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança do Distrito Federal. Em ambas as posições, ela estava subordinada ao ex-ministro Anderson Torres, que também está sendo investigado e possuía minutas que visavam subverter a democracia.
Ao iniciar sua argumentação, Aragão mencionou sentir um certo desconforto na posição em que se encontrava, mas afirmou que atuava com a “consciência tranquila” devido ao longo tempo que conhece a investigada. Ele defendeu a integridade do currículo de Marília, alegando que ela nunca demonstrou a ele qualquer preferência política, sublinhando que tal preferência não é crime, mas que sim é crime o que se faz em nome dela.
Aragão também enfatizou que não desejava minimizar a gravidade das investigações sobre a tentativa de golpe, elogiando a ação do STF, que considera fundamental em tempos difíceis.
Apesar de seus argumentos, o advogado relatou estar enfrentando críticas e sendo rotulado como traidor por aceitar defender Marília. Em sua declaração, ele mencionou ter lutado por causas progressistas ao longo de sua carreira e expressou a indignação por estar sendo atacado por assumir a defesa de uma ex-aluna, que ele descreveu como uma profissional de destaque.
Ele fez menção ao ex-jurista Sobral Pinto, que defendeu Luiz Carlos Prestes durante a ditadura do Estado Novo, ressaltando que a defesa de direitos fundamentais não deve ser abalada por convicções pessoais. Aragão se defendeu das acusações de traição, questionando por que deveria delegar sua consciência a outro apenas para evitar críticas.
O advogado reafirmou que defender Marília Alencar, apesar de discordar de suas convicções políticas, não compromete suas próprias crenças, reafirmando que seu coração “continua vermelho”, como uma referência à sua identidade política de esquerda.