O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, depôs no Supremo Tribunal Federal (STF) em um inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022. Durante seu testemunho, relatou que Jair Bolsonaro insistia na reversão dos resultados eleitorais, o que teria gerado uma ameaça de prisão por parte do então comandante do Exército. Além disso, descreveu como o comandante da Marinha colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro e detalhou uma reunião com o ministro da Defesa em que foi apresentada uma proposta que permitiria uma alteração no resultado das eleições.
As declarações de Baptista Júnior já haviam sido prestadas à Polícia Federal no ano anterior e foram reafirmadas no STF. Ele não está sendo investigado, tendo participado do processo como testemunha. No entanto, algumas partes de seu relato foram contestadas por pelo menos quatro testemunhas, incluindo o ex-chefe do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, o que levou à sugestão de uma acareação.
Em seu depoimento, Freire Gomes negou ter ameaçado prender Jair Bolsonaro, conforme mencionado por Baptista Júnior. Ele destacou que a presença de tal acusação na mídia foi fruto de uma má interpretação e explicou que alertou Bolsonaro sobre as implicações legais de suas ações, afirmando que, se o presidente se afastasse dos aspectos jurídicos, não poderia contar com seu apoio.
O ex-chefe da Marinha, Almir Garnier, que também esteve presente nas reuniões com Bolsonaro, refutou a versão apresentada por Baptista Júnior, descrevendo as alegações como “surreais” e incompatíveis com a disciplina das Forças Armadas.
Baptista Júnior detalhou um encontro tenso entre o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e os comandantes das Forças Armadas em 14 de dezembro de 2022. Durante a reunião, Paulo Sérgio teria mencionado a apresentação de um documento que indicava a possibilidade de não cumprimento da posse do presidente eleito no dia 1º de janeiro. A reação de Baptista Júnior foi de recusa e indignação, levando-o a se retirar da sala.
O ex-ministro é réu em uma investigação sobre o esquema de possível golpe, e essa reunião é um ponto central na apuração. Paulo Sérgio, em seu depoimento, afirmou que nunca elaborou um documento para discutir com os comandantes e sugeriu uma acareação, proposta que foi imediatamente rejeitada pelo ministro Alexandre de Moraes. Apesar das divergências, o ex-chefe do Exército corroborou a narrativa de Baptista Júnior, indicando que o conteúdo do documento estava alinhado com discussões anteriores sobre reverter os resultados eleitorais.
Adicionalmente, Baptista Júnior mencionou que o almirante Garnier teria afirmado em uma reunião com Bolsonaro que as tropas da Marinha estavam à disposição do presidente. Garnier, que é réu devido a essa alegação, negou ter disponibilizado suas tropas para ações de natureza golpista. Em contrapartida, o tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento, corroborou a versão de que Garnier havia manifestado essa disposição.
Porém, em seu depoimento ao STF, Freire Gomes contestou essa prontidão, afirmando que Garnier demonstrou respeito ao Comandante em Chefe das Forças Armadas, sem que isso fosse interpretado como um conluio.