O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, fez um discurso impactante durante a Conferência de Segurança de Munique, em 14 de fevereiro, no qual criticou líderes europeus. Ele questionou se os valores do continente merecem a proteção dos norte-americanos, além de acusar a Europa de restringir a liberdade de expressão, ignorar preocupações populistas e falhar na gestão da imigração. A União Europeia respondeu, afirmando que os Estados Unidos estavam “provocando” a situação.
Vance afirmou que, se os europeus têm medo das opiniões e da consciência de seus cidadãos, não há muito que a América possa fazer por eles. Sua apresentação desviou-se de questões de segurança urgentes, como a guerra na Ucrânia e as ambições da Rússia e da China, para criticar as políticas internas dos países europeus. Ele apontou que o verdadeiro perigo para o Ocidente decorre do que denominou “declínio dos valores fundamentais” na Europa.
O vice-presidente também sugeriu que a Europa deve parar de marginalizar políticos populistas. Ele ressaltou que, embora não seja necessário concordar com todas as declarações feitas, os líderes têm a obrigação de ouvir aqueles que representam uma parcela significativa da população, criticando particularmente os países que impõem restrições a partidos ultraconservadores. Na Alemanha, existe uma tradição de evitar apoio a partidos de extrema-direita como o Alternative für Deutschland (AfD), devido às suas origens ligadas ao nazismo.
Críticas à postura da Europa em relação à imigração também foram parte de seu discurso. Vance se aproveitou de um recente incidente na Alemanha, onde um imigrante afegão causou um atropelamento que deixou várias pessoas feridas, para enfatizar sua retórica contra a imigração. Ele questionou quantas vezes seriam necessários tais episódios até que medidas fossem adotadas. Seus comentários coincidem com um contexto eleitoral na Alemanha e podem alimentar discursos de grupos de extrema-direita.
As declarações geraram reações imediatas dos líderes europeus. Kaja Kallas, chefe de política externa da União Europeia, afirmou que as falas de Vance revelavam uma intenção provocativa, enfatizando que a prioridade deveria ser voltada a questões mais urgentes, como a guerra na Ucrânia. O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, descreveu as observações de Vance como “inaceitáveis” e negou que a Europa estivesse sob ameaça autoritária.
Antes do discurso de Vance, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, já havia alertado sobre os efeitos das políticas de Donald Trump na democracia global, destacando que a nova administração dos EUA possui uma visão de mundo bastante distinta da europeia. A cobertura na televisão estatal russa elogiou a abordagem do vice-presidente americano, caracterizando-a como uma “surra pública”. As declarações de Vance ilustram um abismo crescente entre os Estados Unidos e a Europa, não apenas em relação à guerra na Ucrânia, mas também em questões sobre democracia e valores fundamentais.
