Anualmente, integrantes das Forças Armadas vão a campo para testar sua prontidão para o combate. O cenário simula uma guerra real, com operações em ambientes adversos, utilizando diversos tipos de equipamentos de defesa, como canhões, veículos blindados e artilharia, além de muito barulho. Durante quinze dias, os militares se dedicam ao treinamento. Para 2025, o Ministério da Defesa escolheu a fronteira com a Venezuela como local do exercício conjunto que contará com a participação da Marinha, Aeronáutica e Exército.
A Operação Atlas, programada para ocorrer em outubro, ainda está sendo elaborada, com diferentes aspectos, como o número de participantes e a atuação de cada força, sendo discutidos pelas equipes competentes. O planejamento deve ser finalizado em março. Essa escolha de localização reflete a tensão na região, que é uma das mais delicadas do Brasil, marcada pela imprevisibilidade do governo de Nicolás Maduro. O ditador já fez ameaças de transpor a fronteira nacional e, na semana anterior, mobilizou suas tropas para demonstrar poder contra o que ele classificou como inimigos internos e externos.
A instabilidade na fronteira com a Venezuela tem consequências significativas. A mudança no regime chavista afetou a realidade de Roraima, estado que faz divisa com a Venezuela, há quase dez anos. Desde 2017, o Brasil acolheu cerca de 1 milhão de emigrantes fugindo da ditadura venezuelana, recebendo-os com abrigo e assistência humanitária. Pacaraima é a principal porta de entrada para esses venezuelanos, mas também para as dificuldades que surgem.
Durante o início do governo anterior, em 2019, houve tensão quando o Brasil recebeu doações de alimentos, medicamentos e itens de higiene dos Estados Unidos. Isso resultou em confrontos com militares venezuelanos, que apoiavam ou se opunham à ajuda humanitária. A situação culminou em mortes e feridos, e a presença de carros de combate do Exército venezuelano perto da fronteira foi vista como uma ameaça à soberania do Brasil, levando à intensificação da retórica beligerante do governo.
Em 2023, já sob a gestão atual, a tensão aumentou novamente. O Exército brasileiro convocou uma reunião com o comandante do Exército da Guiana, também vizinha da Venezuela. Durante esse encontro, o general foi alertado sobre o movimento incomum das tropas de Maduro, que se preparavam para uma operação visando o território de Essequibo, considerado estratégico por suas riquezas naturais, como petróleo e ouro, e que é historicamente reivindicado pela Venezuela.
Para que as forças venezuelanas cheguem a Essequibo, elas precisariam cruzar o território brasileiro, que representa a única via terrestre. O governo brasileiro foi notificado sobre a movimentação e reagiu rapidamente, enviando reforços, veículos blindados e munições para a região. O presidente também teve uma conversa com Nicolás Maduro, na qual defendeu a necessidade de evitar uma escalada do conflito. Apesar de os detalhes dessa conversa serem mantidos em sigilo, há informações que indicam que a comunicação diplomática foi vital para desescalar a situação naquele momento. Atualmente, a relação entre os dois países está distante, especialmente após a não aceitação da vitória de Maduro nas eleições recentes.
Os exercícios militares programados para ocorrer em Roraima são considerados cruciais para a preparação em caso de conflitos, dada a complexidade da região, localizada na Amazônia e coberta por densa vegetação. Fontes do alto comando militar relatam que um dos principais desafios enfrentados é a lentidão no transporte de equipamentos para a fronteira, evidenciado quando 28 blindados enviados em 2023 chegaram quase um mês depois da notificação sobre a situação em Essequibo. Além disso, o deslocamento de recursos maiores para um conflito significativo pode levar mais de seis meses, conforme estimativas internas. Parte do treinamento previsto inclui a criação de uma estratégia logística que minimize esses prazos. Recentemente, o governo venezuelano organizou grandes exercícios militares envolvendo civis e militares, com o objetivo de aumentar sua capacidade de resposta às ameaças percebidas.
Com o fechamento da fronteira brasileira em decorrência de operações militares venezuelanas, o governo foi forçado a lidar com tais questões. O governo atual, ao evitar comentar sobre as ações em Caracas, assegura que os exercícios de outubro ocorrerão nas proximidades da Venezuela por coincidência e que não estão relacionados com as movimentações do país vecino.