Jacob Palis, matemático e ex-diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Avançada (Impa), faleceu na quarta-feira, dia 7, aos 85 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi membro de dez Academias Nacionais de Ciências e recebeu o título de doutor Honoris Causa de nove universidades no Brasil e no exterior.
Natural de Uberaba, Minas Gerais, Palis chegou ao Rio de Janeiro aos 16 anos com o objetivo de estudar engenharia. Formou-se em engenharia na Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1962, e, durante a graduação, começou a frequentar seminários no recém-fundado Impa.
Com a ambição de estudar sob a orientação do renomado matemático Stephen Smale, considerado um dos melhores da época, Palis se mudou para Berkeley em 1964 com uma bolsa da Comissão Fullbright. Smale seria laureado com a Medalha Fields, a honraria mais prestigiada na matemática, em 1966. A relação entre Palis e Smale desenvolveu-se em uma amizade duradoura, culminando na conclusão do doutorado de Palis sob a supervisão de Smale.
Após completar seu doutorado, Palis passou um ano nos Estados Unidos, nas universidades Brown e da Califórnia, retornando ao Brasil em 1968. Iniciou sua carreira na UFRJ, mas rapidamente se deu conta de que a universidade não oferecia o ambiente de pesquisa desejado, estabelecendo-se no Impa, onde teve um papel fundamental na construção de um modelo de pesquisa e ensino superior.
Na década de 1970, Palis fez contribuições inovadoras à teoria das bifurcações e organizou o Simpósio Internacional de Sistemas Dinâmicos em 1971, atraindo atenção internacional e ajudando a estabelecer uma cultura científica cosmopolita no Brasil.
Durante os anos 1980, ocupou cargos importantes em organismos internacionais de matemática, além de exercitar funções no Brasil. Dirigiu o Impa entre 1993 e 2003, promovendo sua transformação em Organização Social, o que aumentou a autonomia do instituto e favoreceu seu crescimento e internacionalização. Em 1998, foi eleito presidente da União Matemática Internacional (IMU), e de 2007 a 2016, presidiu a Academia Brasileira de Ciências, onde defendeu que o investimento em ciência no país deveria ser de pelo menos 2% do PIB.
Palis atuou como orientador, equilibrando suas funções administrativas com atividades de pesquisa e ensino, e sua genealogia acadêmica inclui ao menos 42 alunos diretos e 141 “descendentes” acadêmicos, entre os quais se destaca Artur Avila, ganhador da Medalha Fields.
Sua pesquisa concentrou-se nas regiões caóticas de sistemas dinâmicos, e na década de 1990, Palis formulou uma visão abrangente da teoria dos sistemas dinâmicos, que permanece um forte foco de investigação na área.
Sua trajetória foi marcada por diversas honrarias, incluindo a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994), o Prêmio Interamericano para Ciência (1995), o título de Oficial da Legião de Honra (2018), o Prêmio Trieste de Ciência (2006) e o Prêmio Balzan em Matemática (2010). Jacob Palis era membro de várias Academias Nacionais de Ciências em países como Estados Unidos, França e Rússia.
Ele deixa sua esposa, Suely Lima, seus filhos Rebeca, Carlos Emanuel e Laura, além de cinco netos.