Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um software que orienta a poda de árvores em áreas urbanas de maneira precisa, visando a redução do risco de quedas. Com a intensificação dos eventos climáticos extremos, as tempestades nas grandes cidades têm levado ao aumento de quedas de árvores, resultando em danos tanto econômicos quanto em perdas de vidas. Em São Paulo, após chuvas intensas, um dia específico registrou 330 quedas de árvores, uma das quais causou a morte de um motorista ao atingir seu veículo. Anualmente, o município contabiliza cerca de 2 mil quedas de árvores, excluindo as ocorrências em parques e áreas de conservação.
O processo de poda envolve inicialmente o escaneamento das árvores utilizando tecnologia a laser, que capta imagens tridimensionais de diferentes pontos. Essas imagens são integradas em um modelo computacional. A equipe de pesquisadores desenvolveu um software que utiliza um algoritmo de poda com o intuito de preservar a estrutura da árvore. Essa pesquisa combina aspectos de biologia, matemática e mecatrônica e está sendo realizada por grupos do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), Instituto de Biociências (IB-USP) e Escola Politécnica (Poli-USP), através do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito (RCGI).
Os pesquisadores explicam que as árvores são estruturas que otimizaram seus recursos materiais ao longo do tempo. Se a poda for realizada inadequadamente, isso pode gerar fragilidades na estrutura. O software criado permite que sejam avaliadas deformações nas árvores, assim como sua deflexão em resposta aos ventos, possibilitando um diagnóstico mais acurado para a poda. Durante análises realizadas no campus da USP, foram realizadas podas de até 20% da copa e o equilíbrio da árvore foi mantido, enquanto outro tipo de corte resultou em aumento dos pontos de fraqueza, elevando o risco de queda.
Em áreas urbanas, a poda geralmente segue um plano de manejo ambiental que busca equilibrar a saúde da árvore com a convivência humana. A execução da poda é determinada por profissionais qualificados, limitando-se a 30% da copa da árvore. Segundo especialistas, a precisão deste software superará a capacidade humana em determinar o método de poda ideal. Embora ainda não tenha sido calculado o percentual de quedas evitadas pela técnica, os professores envolvidos afirmam que isso será desenvolvido em breve.
O próximo passo da pesquisa inclui uma colaboração com meteorologistas para melhorar a compreensão sobre como a velocidade e direção dos ventos impactam a integridade das árvores. Essa abordagem poderá identificar pontos mais vulneráveis das copas durante tempestades e auxiliar no planejamento da poda e do plantio em áreas propensas a ventos fortes.
Estudos anteriores já indicaram que podas severas, além de fatores como o estado da madeira e o constrangimento das raízes por calçadas, podem servir como indicadores de possíveis quedas de árvores nas áreas urbanas. Entre os fatores que afetam a estabilidade das árvores estão a altura dos edifícios ao redor, a idade dos bairros, a largura das calçadas e a altura das árvores, que em regiões de verticalização, conhecidas como “cânions urbanos”, enfrentam condições adversas devido ao vento alterado.
A ideia para o software surgiu em um encontro informal entre pesquisadores, quando uma figueira centenária inspirou a discussão sobre como algoritmos poderiam ser aplicados para melhorar a estrutura das árvores urbanas. O conceito se relaciona à otimização estrutural observada na natureza, onde formas como uma maçã servem como modelo para cálculos de pressão e distribuição de peso.
O projeto consiste em modelar a árvore a partir dos dados obtidos pelo escaneamento a laser, com colaboração de especialistas em tecnologia. Essa modelagem inicial focou nas copas das árvores, mas a inclusão de informações sobre as raízes está nos planos futuros. Com essa metodologia, novas simulações personalizadas para diferentes espécies poderão ser criadas e a abordagem é escalável, permitindo o mapeamento arbóreo de toda uma cidade.
Prefeituras, incluindo a de São Paulo, já manifestaram interesse na aplicação do software. O objetivo é integrar pesquisa científica e tecnologia na luta contra as mudanças climáticas, aumentando a eficiência das análises e possibilitando parcerias com startups que desejam contribuir. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo mencionou que está em contato com os pesquisadores para entender melhor o funcionamento do software e sua possível aplicação nos serviços de manejo arbóreo da cidade.