A sucessão no Grupo Silvio Santos e no SBT envolve um certo mistério. Com mais de 90 anos, o apresentador continuava gerenciando os negócios de maneira centralizada. Contudo, Silvio Santos possuía um plano para o futuro de suas empresas, embora mantivesse em segredo a maior parte de suas intenções sobre seu legado. Ele faleceu no último sábado (17), aos 93 anos, devido a broncopneumonia decorrente de uma infecção por influenza (H1N1). A preparação para a transição das empresas do grupo intensificou-se em 2016, quando o SBT, a principal empresa da holding, enfrentou uma das suas maiores crises.
O SBT, que tem uma receita de cerca de R$ 1,1 bilhão e um lucro líquido estimado de R$ 40 milhões (não publica balanços regulares), encerrou 2016 com um lucro líquido de apenas R$ 6,6 milhões, um número muito inferior aos R$ 76,1 milhões registrados no ano anterior. Uma das dificuldades enfrentadas pela emissora sempre foi a combinação de receita reduzida e custos elevados. Para resolver essa situação e superar a crise, o Grupo Silvio Santos contratou a consultoria americana McKinsey, conhecida por seu trabalho em reestruturação. A intenção era organizar as finanças e também elaborar um plano de sucessão para o empresário.
Em 2017, após conseguir uma economia de R$ 100 milhões, que resultou na demissão de aproximadamente 200 funcionários, o SBT conseguiu registrar um lucro contábil de R$ 38,6 milhões, conforme os números daquela época. Durante este período difícil, Silvio Santos designou seu sobrinho, Guilherme Stoliar, para liderar a holding em um momento de intensa turbulência financeira. O poder de decisão foi compartilhado entre Stoliar, Silvio e suas filhas, especialmente Renata, que sempre tinha a palavra final do pai nas decisões empresariais.
Com a pandemia, Stoliar abandonou o cargo após 49 anos no grupo, e Renata assumiu o controle total dos negócios em agosto de 2020. Assim como suas irmãs, Renata possui formação nos Estados Unidos e se graduou em administração de empresas na Liberty University, uma instituição evangélica de menor expressão na Virgínia. Em uma rara entrevista, ela mencionou como seu pai a influenciou e expressou que o planejamento sucessório estava em andamento, embora reconhecesse que Silvio Santos é insubstituível. Renata é a filha mais reservada, ficando longe dos holofotes, mas tem sob sua gestão diversas operações, incluindo a emissora e várias afiliadas, além de diferentes empresas do grupo.
A emissora, com mais de quatro décadas de história, é dirigida por José Roberto Maciel há quase dez anos. Ele foi responsável por trazer novos diretores comerciais de grandes redes, que implantaram estratégias ousadas, como a transmissão de jogos de futebol, trazendo bons índices de audiência. Além disso, a emissora também investiu em conteúdo digital, lançando o site de notícias SBT News.
Maciel não está sozinho na gestão, contando com Daniela Abravanel Beyruti, irmã de Renata, como sua principal colaboradora. Assim como Renata, Daniela se formou pela Liberty University e tem um diploma em comunicação social. Ela tem trabalhado no SBT desde 2010 e foi instrumental em diversificar a programação da emissora, que tradicionalmente era focada em programas de auditório.
Enquanto ainda se discute quem poderá substituir Silvio Santos no palco, o futuro das empresas do grupo é um pouco mais claro. Uma especulação prevalente é que o grupo será dividido de alguma maneira. A Jequiti Cosméticos, a segunda maior empresa após o SBT, é vista como a primeira da qual se pode esperar uma venda. A marca, que não possui indústria própria, passou por uma reestruturação recentemente. O mercado prevê que a Jequiti possa seguir o mesmo caminho que o Baú da Felicidade, que foi adquirido pelo Magazine Luiza em 2011. Em 2023, a Jequiti reportou uma receita de aproximadamente R$ 3 bilhões e lucros de R$ 248 milhões.