Na entrada do Rio de Janeiro, para os viajantes vindos de São Paulo, o Castelo Mourisco está localizado em uma colina ao longo da Avenida Brasil. Esse castelo é um destaque na paisagem, representando o vasto terreno da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma instituição de renome internacional em pesquisa científica e desenvolvimento de vacinas. A fundação ocupa uma área de 900.000 metros quadrados, onde circulam aproximadamente 10.000 pessoas diariamente. Nos últimos tempos, a Fiocruz enfrentou episódios de tensão que sua relevância dificulta imaginar, com confrontos entre traficantes e policiais civis ocorrendo dentro de suas instalações. Embora seja a primeira vez que um incidente desse tipo aconteça no campus, a violência nas proximidades é frequente, com disparos atingindo os prédios da instituição, refletindo a crise de segurança que afeta o entorno.
Em 2022, somaram-se trinta dias em que a violência interrupiu as atividades da Fiocruz, incluindo a essencial produção de vacinas. O diretor-executivo da entidade expressou sua preocupação ao comentar sobre a situação, questionando por que uma instituição tão importante para o Brasil deveria viver sob tais circunstâncias. O caso ganhou notoriedade quando, na manhã de 8 de janeiro, a comunidade científica vivenciou momentos de pânico com a presença de policiais e bandidos em uma área movimentada do complexo, resultando em ferimentos a uma funcionária e na morte de três criminosos, que escaparam por um rio próximo.
Os conflitos nas imediações, especialmente na Favela da Varginha, intensificaram-se com a mudança das operações criminosas do Comando Vermelho, focando em roubos de caminhões. As consequências desse cenário de violência envolveram até mesmo o patrimônio histórico do castelo, que foi alvejado em episódios recentes. A Fiocruz, que conta com cerca de 9.000 funcionários e centenas de edificações, é comparável a uma cidade sitiada, com 90% de suas estruturas já atingidas por balas.
A saúde e segurança dos funcionários são preocupações constantes, particularmente em relação ao Laboratório de Biossegurança Nível 3, que manipula agentes biológicos, incluindo o vírus da covid-19. Medidas como a blindagem de novos edifícios e o desenvolvimento de planos de contingência refletem a gravidade da situação. Procedimentos de segurança, que incluem o abrigo de funcionários durante tiroteios, tornam-se necessários em um ambiente que deveria ser propício para a pesquisa.
Foi observado que, em um raio de 1 quilômetro do campus, ocorreram várias trocas de tiros nos primeiros dias do ano, a maioria envolvendo operações policiais. A falta de planos claros e comunicação prévia por parte do governo estadual tem sido um desafio significativo. A eficiência das ações policiais em comunidades vizinhas é questionada, e a Fiocruz está se tornando cada vez mais central para o desenvolvimento socioeconômico do país, mas suas necessidades não têm sido atendidas adequadamente.
Recentemente, o espaço verde da Fiocruz, considerado um abrigo seguro, está se tornando alvo de criminosos, que utilizam a região para escapar da polícia. Apesar do aumento das operações policiais, a sensação de insegurança persiste, com os índices de criminalidade, incluindo o roubo de veículos, alcançando números alarmantes. Tragédias decorrentes das operações policiais reforçam a urgência de uma reavaliação das estratégias de segurança adotadas pelo estado.
A discussão sobre a atuação das forças de segurança chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde estão sendo analisadas medidas que visam limitar a violência policial nas operações em comunidades. A Fiocruz, juntamente com organizações locais, se opõe a revisões que possam aumentar a legitimidade de ações violentas. O tribunal solicitou um plano de atuação do governo do Rio de Janeiro nas favelas, com foco na restrição do uso indiscriminado de helicópteros e na implementação de câmeras para fiscalização.
A história da Fiocruz é marcada por momentos de tensão, incluindo episódios durante a ditadura militar, e esses lembranças tornam a situação atual ainda mais alarmante. O ambiente de insegurança e risco contínuo clama por uma solução que restabeleça a tranquilidade tão necessária para o cumprimento de sua missão vital.