Um foguete Falcon 9 da SpaceX lançou-se ao espaço na madrugada desta quarta-feira, levando dois módulos destinados ao pouso lunar em uma missão rumo ao nosso satélite natural. Este evento marca o começo de um ano que promete ser intenso para as missões lunares, em meio a uma nova corrida para estabelecer uma presença humana de longa duração na superfície do satélite. O foguete levantou voo do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, às 3h11, no horário de Brasília. Dentro do compartimento do foguete, estavam os dois módulos lunares originários de países distintos. O primeiro é o Blue Ghost, um módulo lunar de 2 metros de altura desenvolvido pela Firefly Aerospace, localizada em Cedar Park, Texas. Esta missão não tripulada representa a primeira tentativa da Firefly de enviar uma nave espacial à Lua, sendo a empresa uma fornecedora do Commercial Lunar Payload Services da NASA, parte do programa Artemis, que visa levar humanos de volta à Lua pela primeira vez em mais de meio século.
“É um ótimo momento para a economia lunar”, afirmou o CEO da Firefly Aerospace, expressando total confiança nas capacidades da equipe, mesmo ciente de que o sucesso da primeira missão do Blue Ghost não é garantido. Juntamente com o Blue Ghost, o compartimento de carga do Falcon 9 abriga um módulo de pouso lunar de 2,3 metros de altura da Ispace, empresa japonesa com sede em Tóquio. Este lançamento representa a segunda tentativa da Ispace de colocar uma de suas espaçonaves Hakuto-R na Lua. A empresa comercial se propõe a oferecer serviços a agências espaciais ou empresas que desejam enviar cargas para o satélite. Assim como a Astrobotic Technology, com sede em Pittsburgh, que desenvolveu o módulo lunar Peregrine, a Ispace tem suas origens no Google Lunar XPrize.
A competição ofereceu um prêmio de 20 milhões de dólares para qualquer equipe que conseguisse colocar um módulo lunar na superfície lunar, num esforço para fomentar inovação tecnológica no setor privado. A competição foi encerrada em 2018 sem um vencedor, pois os desenvolvimentos tomaram mais tempo do que o previsto. A Ispace, agora listada na bolsa de valores de Tóquio, fez sua primeira tentativa de pouso lunar em 2023, mas a nave Hakuto-R daquela missão colidiu, deixando uma nova marca na superfície lunar. A empresa atribuiu essa falha a dados imprecisos sobre a altitude da nave espacial, mas afirmou estar preparada para tentar novamente, munida das lições aprendidas.
Os módulos de pouso lunar da Ispace e da Firefly estão começando suas jornadas individuais após serem lançados juntos. O Blue Ghost deve orbitar a Terra por cerca de 25 dias antes de seguir em um trajeto de quatro dias até a Lua, onde se planeja que realize um pouso em 2 de março. Em contraste, o módulo Resilience da Ispace está adotando uma trajetória mais lenta em direção ao satélite. “Esta é uma trajetória de baixa energia”, explicou um diretor, ressaltando que isso pode ser vantajoso para testar diversos sistemas ao longo do percurso. Embora a Ispace não tenha divulgado uma data específica para o pouso do Resilience, foi mencionado que a nave pode levar de quatro a cinco meses para alcançar a Lua.
A primeira tentativa da Hakuto-R não teve sucesso devido a uma falha no cálculo da descida ao passar sobre uma cratera, resultando em uma queda de aproximadamente 5 quilômetros até o solo lunar. Um representante da Ispace comentou que praticamente todos os sistemas funcionaram corretamente na primeira missão, exceto o software e a medição de altitude. Por sua vez, o Blue Ghost se propõe a pousar próximo a Mons Latreille, uma formação vulcânica antiga numa vasta bacia de 483 quilômetros conhecida como Mare Crisium. Em sua estrutura, levará uma série de instrumentos científicos e demonstrações tecnológicas com o intuito de testar a navegação por satélite e outros componentes.
O CEO da Firefly Aerospace expressou entusiasmo em compartilhar imagens e vídeos que o Blue Ghost poderá capturar durante a missão. Ele destacou um fenômeno conhecido como brilho do horizonte lunar, que até o momento foi visto apenas por astronautas das missões Apollo 15 e 17. Esse fenômeno ocorre quando a luz solar interage com o regolito lunar, criando partículas que flutuam e dispersam a luz. O módulo operará na superfície lunar por aproximadamente 14 dias, antes que a noite lunar interrompa suas atividades.
Por sua parte, a Ispace busca redimir-se com o módulo Resilience, que tentará aterrissar em uma nova localização lunar: uma vasta planície chamada Mare Frigoris, no extremo norte da Lua, onde o terreno é mais plano e pode oferecer condições favoráveis para a exploração de um rover miniatura chamado Tenacious. O Tenacious, que mede 26 centímetros e pesa cerca de 5 quilos, será lançado do módulo Resilience para explorar as redondezas, equipado com uma pequena pá para coletar solo lunar. Adicionalmente, o módulo transportará experimentos e tecnologias inovadoras, como um eletrolisador de água e um sistema para testar a produção de alimentos a partir de algas.
O carregamento também incluirá objetos simbólicos, incluindo uma placa em homenagem à icônica franquia de ficção científica. Um artista sueco está contribuindo com uma miniatura de uma casa vermelha, que ele tenta colocar na Lua há mais de 20 anos. Esta “Moonhouse” é vista como símbolo das capacidades humanas em alcançar o que parece impossível por meio de colaboração. A iniciativa é parte de um projeto que busca levar arte e cultura aos ambientes lunares, seguindo os passos de outras peças de arte que foram enviadas ao espaço em missões anteriores.