“A recordação provoca um nó na garganta. A experiência foi extremamente difícil, gerando um sentimento profundo de impotência e urgência. Muitas pessoas que foram entrevistadas desejavam mostrar a realidade que enfrentavam, os efeitos devastadores das enchentes. A necessidade de denunciar essa situação era evidente”, relata uma fotógrafa que teve quatro registros premiados no World Press Photo 2025, uma das mais renomadas premiações do mundo. Esses registros foram reconhecidos na categoria Reportagem, com a série “As Piores Enchentes do Brasil”, que documenta os impactos das chuvas na cidade de Canoas, um dos locais mais afetados pelo desastre climático.
Os desafios logísticos para a realização do trabalho foram significativos, incluindo o transporte de equipamento e deslocamentos em uma região em estado de alerta. A extensão das enchentes transformou trajetos curtos em viagens que consumiam horas. A situação em constante mudança e as novas interdições tornavam difícil obter informações consistentes das autoridades. Durante esse período, a maioria do tempo foi dedicada a dirigir, enfrentando um cenário de acesso que mudava rapidamente, dia após dia.
Os registros foram realizados no município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde cerca de 15 mil pessoas foram deslocadas para abrigos e 11 bairros foram evacuados por determinação da prefeitura. A gravidade da situação se tornou evidente ao observar o bairro de Mathias Velho completamente inundado, com dezenas de pessoas sendo resgatadas de suas residências por voluntários, bombeiros e membros das forças armadas.
Um fotógrafo local, já presente no estado quando as chuvas começaram, também ganhou destaque. A imagem intitulada “Aeronave em Pista Inundada”, capturada no Aeroporto Internacional Salgado Filho em Porto Alegre, foi reconhecida na categoria Individual da América do Sul. A fotografia retrata um Boeing 727-200 preso nas águas da enchente.
Os desafios emocionais foram significativos, especialmente ao testemunhar a devastação de locais afetivos e a preocupação com familiares que estavam diretamente impactados. Manter o foco profissional enquanto recebia notícias de amigos desaparecidos se tornou um desafio emocional considerável.
Devido ao bloqueio das vias, o registro foi realizado a partir de um helicóptero. O fotógrafo buscou autorização do exército para participar de uma missão de sobrevoo, após uma longa espera. Ao avistar a cena, rapidamente percebeu a magnitude do evento e, ao enviar a imagem ao editor, sentiu que tinha capturado um momento único.
O aprendizado extraído dessa experiência é uma lição dura sobre o aquecimento global, ressaltando que ninguém sairá ileso. Caso a situação do planeta continue a se agravar, todos serão afetados. Uma das fotos expressa essa mensagem ao retratar mesmo estruturas tecnológicas avançadas sendo superadas pela força da natureza, servindo como um lembrete da vulnerabilidade diante da degradação ambiental.
As fotografias de ambos os artistas, assim como outros projetos premiados nesta edição do World Press Photo 2025, estarão em exibição no Rio de Janeiro, de 27 de maio a 20 de julho, na sede da Caixa Cultural, localizada na Rua do Passeio. A visitação ocorre de terça a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos e feriados, das 11h às 18h. Após essa exibição, as obras seguirão para São Paulo, Curitiba e Salvador, com entrada gratuita.
