O atual clima no mosteiro de Santo Spirito, em Florença, é de tensão. O frade agostiniano Giuseppe Pagano, de 65 anos, juntamente com três colegas monges, está se preparando para resistir à proposta de transformar o local em uma casa de repouso de luxo. Pagano manifestou sua indignação em entrevista recente, destacando a necessidade de agir em defesa do patrimônio histórico e espiritual do mosteiro, que tem uma longa trajetória desde a fundação em 1397.
Segundo Pagano, a obra já é visível, com equipamentos de construção cercando o mosteiro. Ele afirmou que, assim que as obras forem iniciadas, os monges estarão prontos para ocupar o espaço e impedir o andamento das atividades. A disposição de enfrentar sanções financeiras e legais para preservar o que consideram uma parte crucial de sua identidade é clara. O mosteiro, que abriga uma rica história, inclusive ligada a Michelangelo, detém também um crucifixo feito pelo artista.
A propriedade do complexo é compartilhada com o Ministério da Defesa italiano, que tomou medidas em 1866 para apreender partes do edifício, deixando os monges nas áreas inferiores. Com a iminente desativação de um quartel militar nas proximidades, surgem planos para a conversão do espaço em uma residência de alto padrão, o que ameaça a tranquilidade do local sagrado.
Recentemente, o Ministério da Defesa lançou uma concorrência para a renovação do complexo, que foi vencida por uma empresa especializada em propriedades de luxo. Embora a concessão tenha sido anunciada, o ministério não se manifestou sobre o descontentamento dos monges em relação ao projeto.
Os frades alegam que foram desinformados sobre as intenções do ministério e a concorrência, e expressaram preocupação de que a nova casa de repouso se assemelhe mais a um hotel cinco estrelas. Isso levantou questões sobre a privacidade dos monges, já que os hóspedes teriam vista sobre o pátio utilizado por eles.
Nesse contexto, um grupo chamado “Salviamo Firenze” ofereceu apoio aos monges, comprometendo-se a protestar e, se necessário, ocupar o mosteiro diante da iminência das obras. Em busca de um diálogo, os frades e a Universidade Agostiniana Villanova, nos Estados Unidos, solicitaram uma reunião com o Ministro da Defesa para apresentar uma proposta alternativa que inclui a criação de um centro comunitário. Contudo, essa solicitação não teve retorno.
A estratégia legal também foi considerada, com a intenção de contestar o desenvolvimento caso os planos avancem. Assim, os frades esperam apoio de autoridades locais, propondo um projeto que contemplaria espaços comunitários, incluindo uma biblioteca e uma casa de hóspedes para estudantes.
O apoio à causa dos monges de Santo Spirito tem crescido, com figuras influentes, como Eike Schmidt, ex-diretor do museu Uffizi, destacando a importância cultural e histórica do mosteiro. Schmidt também criticou a maneira como o processo de concessão ocorreu em silêncio, ignorando a relevância do local.
Uma coletiva de imprensa está sendo organizada com o objetivo de aumentar a consciência sobre a luta dos frades. Em suas declarações, Pagano expressou otimismo sobre a mobilização popular, afirmando que a preservação desse espaço histórico é essencial para a identidade de Florença e sua história.