20 fevereiro 2025
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Fundos de Crédito Privado Enfrentam Resgates de R$ 40,6 Bilhões na Correção de Mercado

A principal força do mercado brasileiro em 2022, os fundos de crédito privado, têm enfrentado um aumento significativo nos resgates a partir de novembro, quando a categoria passou por uma reprecificação devido ao agravamento do cenário macroeconômico. De acordo com dados de uma plataforma de análise, os fundos que têm ao menos 50% de alocação em crédito registraram saídas de R$ 40,6 bilhões nos últimos três meses. Aproximadamente metade desse valor foi retirada em janeiro de 2023, enquanto R$ 11,5 bilhões foram resgatados em dezembro e R$ 9,7 bilhões em novembro.

Esse movimento de resgates contrasta com a captação registrada ao longo de 2023, quando os fundos de crédito privado superaram R$ 250 bilhões em novos aportes entre janeiro e outubro. O cenário mudou drasticamente com a apresentação de um novo pacote fiscal do governo, que impulsionou a alta do dólar e impactou negativamente os preços no mercado acionário. A marcação a mercado de títulos de crédito privado resultou em desvalorizações significativas, ampliando os spreads e afetando a rentabilidade dos fundos.

Com o aumento da percepção de risco, o mercado começou a apresentar um movimento de aversão ao crédito em novembro, intensificado em dezembro pela perspectiva de uma Selic a 15%. Essa situação não apenas elevou as despesas financeiras das empresas, mas os analistas passaram a considerar com mais atenção o risco à receita, dado o reconhecimento de uma atividade econômica mais fraca. Assim, os spreads dos emissores AAA aumentaram, passando de 1% para 1,3%, conforme informações do mercado.

No final de dezembro, os índices de debêntures atrelados ao CDI mostraram rentabilidade negativa, com o índice de maior liquidez caindo 0,42% e o de menor rating caindo 1,33%. A deterioração financeira de diversas empresas resultou em maior aversão ao risco, levando os investidores a migrar para alternativas mais seguras, como créditos bancários e títulos públicos. Essa desvalorização criou oportunidades para gestores de fundos, que ainda se mantêm bem capitalizados.

Apesar da nova compressão de spreads, essa situação ocorreu principalmente em debêntures de risco muito baixo. Alguns papéis de empresas conhecidas, que eram negociados a spreads ajustados, agora apresentam aberturas significativas devido à cautela do mercado, mesmo sem eventos de crédito que justificassem essa penalização. A saída de capital em janeiro parece ser uma resposta às perdas acumuladas em dezembro, e expectativas indicam que os resgates continuarão no primeiro trimestre de 2023.

Embora a capacidade de pagamento das principais empresas high grade não seja contestada, a percepção atual é de que os preços ainda não justificam o risco, levando muitos fundos a aumentar suas reservas em caixa. Essa estratégia ajuda a mitigar os impactos provenientes da marcação a mercado e a assegurar liquidez para atender os resgates. No entanto, se os resgates persistirem, pode haver pressão adicional para que os fundos reequilibrem suas posições.

A baixa profundidade do mercado de crédito brasileiro é um fator que contribui para a manutenção de grandes posições em caixa, uma vez que a oferta de papéis de qualidade não acompanhou o crescimento nas captações. Gestores estão buscando ativos de alta qualidade, com spreads justos e duração curta, mas a disponibilidade de tais opções no mercado permanece restrita.

Os volumes elevados nas captações de crédito privado em 2022 foram impulsionados pela saída de grandes investidores de fundos multimercados, que perderam isenção em 2025. A maior parte desse movimento já ocorreu e espera-se que o volume de emissões em 2025 seja menor, guiado pela seletividade dos gestores e pelos altos custos da dívida, refletindo um padrão de emissão bem distinto do ano anterior.

A redução no apetite do mercado já impacta os planos de emissão de dívidas das empresas, com um expressivo declínio nas emissões registrado de dezembro a janeiro, dificultando a captação de novos recursos. Algumas empresas têm postergado processos de captação para compreender melhor as condições de mercado, refletindo uma demanda menor por novas emissões.

No setor de middle market, as discrepâncias de preços estão inviabilizando novas captações, levando empresas a adiar projetos que não se sustentam financeiramente sob a atual taxa de juros elevada. Enquanto a maioria das empresas enfrenta um ambiente desafiador, o segmento de infraestrutura se destaca como uma exceção, beneficiado pela isenção de imposto de renda, prevendo um número significativo de emissões e investimentos nos próximos anos.

Com a expectativa de 110 leilões de concessão e parcerias público-privadas em 2025, o setor apresenta um pipeline promissor, impulsionado pela indexação das debêntures de infraestrutura. Essa característica faz com que empresas que captam recursos atrelados ao IPCA não sejam tão impactadas pela alta nas taxas de juros.

Investidores ainda enxergam valor nas oportunidades de investimento em infraestrutura, embora esteja presente a insegurança em um ambiente de mercado volátil, onde ativos estão sendo reprecificados de maneira desigual, revelando o impacto da aversão ao risco no setor de crédito privado.

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