O julgamento dos acusados na tentativa de golpe revelou que, para muitos dos envolvidos, a democracia era vista mais como uma imposição do que uma escolha. As declarações de um general ao Supremo Tribunal Federal exemplificam essa visão: ele afirmou que “não havia clima” para contestar os resultados das urnas e que foi necessário “aceitar” o veredito eleitoral.
O aspecto relevante não reside apenas no que foi declarado, mas também na forma como isso foi feito. O reconhecimento não se manifestou por meio de arrependimento ou convicção na democracia, mas sim como uma rendição política. Essa situação foi descrita em discussões entre jornalistas que acompanham o caso como um “entubamento” da realidade.
Mesmo mantendo um silêncio formal, o general acabou revelando inconscientemente algumas verdades ao mencionar a ausência de oportunidades para agir. Ele citou que o próprio presidente havia restringido a possibilidade de ações mais radicais e foi até advertido por seu advogado por se manifestar em excesso. Esse “sincericídio” apenas enfatiza a ideia de que o insucesso do golpe não foi uma falha moral, mas sim uma falha operacional.
No final, não houve uma ruptura porque as condições para tal não estavam presentes. O respeito às urnas foi aceito, ainda que de maneira forçada, como a última alternativa. A democracia prevaleceu, mas de forma amarga: imposta, e não desejada.