A Geórgia demitiu aproximadamente 700 servidores públicos em decorrência de seu apoio a manifestações a favor da União Europeia, que ocorrem no país desde dezembro. A informação foi divulgada por um relatório da seção georgiana da organização anticorrupção Transparência Internacional. Os protestos começaram em novembro, quando o governo, acusado por críticos de adotar uma postura favorável à Rússia e autoritária, anunciou a suspensão das negociações para adesão à UE até o ano de 2028. Esta decisão, que vai contra um objetivo nacional amplamente apoiado, gerou indignação em uma população de 3,7 milhões de habitantes.
Funcionários de diversos órgãos do governo redigiram cartas abertas condenando a postura adotada pelas autoridades, enquanto diplomatas de várias missões estrangeiras apresentaram suas renúncias como forma de protesto. Em dezembro, o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze afirmou que as cartas abertas eram uma forma de “autolimpeza” do serviço público, que, segundo ele, incluía elementos desleais. Os protestos, que permanecem ativos, enfrentaram uma violenta repressão por parte das forças do governo georgiano, situação que gerou condenações por parte de países ocidentais.
Desde o início das manifestações, o partido governante, Georgian Dream, tem alterado repetidamente as legislações que regulam o serviço público, enfraquecendo as proteções legais dos trabalhadores do setor. A Transparência Internacional indicou que entre as entidades mais impactadas pelas demissões estão o Ministério da Defesa e a prefeitura de Tbilisi, a capital do país. Até o momento, um porta-voz do governo não respondeu a solicitações de comentários sobre a situação.
Historicamente considerado um dos Estados pós-soviéticos mais favoráveis ao Ocidente, as relações da Geórgia com países ocidentais se deterioraram progressivamente nos últimos anos. Isto ocorreu à medida que Tbilisi começou a estreitar laços com Moscou, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. O partido Georgian Dream, frequentemente associado ao bilionário ex-primeiro-ministro Bidzina Ivanishvili, foi reeleito em uma eleição em outubro, que a oposição denuncia como fraudulenta.
Nos últimos anos, o partido implementou várias legislações, incluindo restrições aos direitos da comunidade LGBT e um regulamento controverso que obriga organizações que recebem financiamento do exterior a se registrarem como “agentes estrangeiros”, sob pena de severas punições. Apesar das tensões, o Georgian Dream afirma continuar com o desejo de integrar a União Europeia, ao mesmo tempo em que propõe manter relações de equilíbrio com a Rússia e preservar valores tradicionais.