Gilberto Braga é reconhecido como o criador de algumas das novelas mais icônicas da teledramaturgia brasileira, incluindo “Vale Tudo”, que recentemente ganhou uma nova versão sob a direção de Manuela Dias, quase quatro décadas após sua primeira exibição. Em uma entrevista de 1994 para um veículo de comunicação, resgatada recentemente por usuários de uma rede social, Braga chegou a discutir a possibilidade de reinterpretar suas obras. No contexto do notável enredo focado em conflitos de classe, o autor identificou uma única crítica recorrente à sua personagem principal: “Eu melhoraria a Raquel, que era um pouco chata”.
A personagem Raquel Acioly, interpretada inicialmente por Regina Duarte em 1988 e agora por Taís Araújo, é retratada como uma jovem cheia de princípios, que busca se manter firme em suas convicções morais, em contraste com sua filha que adota uma postura mais desonesta. O comprometimento de Raquel com sua ética, embora admirável, é considerado exagerado por alguns espectadores. No remake de Dias, essa suposta “chatice” da personagem permaneceu, com cenas que testam a paciência do público, como sua reação à perda de uma mala com dinheiro ou sua recusa em aceitar uma oportunidade de trabalho.
Além de “Vale Tudo”, Gilberto Braga fez poucas concessões a revisões em seu trabalho, exceto para as novelas “Helena” (1975), “Senhora” (1975) e “Escrava Isaura” (1976). O autor manifestou a intenção de revisar integralmente “Corrida do Ouro” (1974) e “Brilhante” (1981). Considerou “Dona Xepa” (1977) deficiente, uma obra que foi escrita em circunstâncias desafiadoras. Commentou que “Dancin’ Days” (1978) se tornou maçante após um certo ponto e que todos os personagens masculinos necessitariam de modificações. Quanto a “Água Viva”, apenas algumas personagens, interpretadas por Tônia Carrero e Beatriz Segall, escapariam de alterações, enquanto o enredo central precisaria de revisões significativas. Em relação a “Louco Amor” (1983), o autor descreveu a novela como “sem graça”, enquanto “Corpo a Corpo” (1984) foi considerada “muito chata” após a segunda metade, com a necessidade de ajustes no romance interracial que retratava.
Em entrevistas, ele abordou suas considerações sobre como poderia aprimorar suas novelas ao longo do tempo, refletindo sobre a evolução das narrativas e dos personagens na teledramaturgia.