O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o Brasil sofrerá menos impactos em comparação a outros países devido à aplicação de tarifas de importação pelos Estados Unidos. Durante um evento do Bradesco BBI, ele explicou que os produtos brasileiros podem se tornar mais competitivos em relação aos concorrentes internacionais, uma vez que o Brasil foi submetido a uma tarifa mínima de 10%, conforme estipulado pelo presidente americano, Donald Trump.
O ministro também ressaltou que a atual guerra comercial se desenrola em um contexto em que o Brasil desfruta de uma posição favorável: o país não possui dívidas externas, conta com grandes reservas cambiais e apresenta um saldo comercial robusto. Esses elementos, segundo Haddad, conferem ao Brasil uma maior liberdade para reagir a choques internacionais, especialmente em comparação com outros países da América Latina.
Haddad comparou a situação do Brasil a um incêndio, afirmando que, em relação aos seus pares, o país está “mais perto da porta de saída”. Essa análise enfatiza a necessidade de cautela nas respostas do governo brasileiro às políticas tarifárias dos EUA. O ministro alertou sobre o risco de ações imprudentes, recomendando cautela e paciência antes de qualquer tomada de decisão: “A pior coisa que o Brasil pode fazer nesse momento é sair a campo sem a prudência que sempre tivemos; devemos esperar a poeira baixar.”
Ao discutir o contexto geopolítico em torno da guerra comercial iniciada por Trump, Haddad observou que os Estados Unidos se destacaram na globalização econômica, evidenciado por indicadores como PIB, inovação tecnológica e renda per capita. No entanto, ele destacou que o foco atual dos EUA não se dirige à Europa ou à Rússia, mas sim à China, cuja ascensão como potência econômica e militar despertou o interesse dos americanos.
O ministro alertou que a abordagem abrupta dos EUA poderá gerar desordens significativas na economia global, o que pode afetar produtividades e resultados econômicos em diversos países. Contudo, ele observou que essa movimentação não solucionará o principal desafio enfrentado pelos EUA: o déficit comercial. De acordo com Haddad, a tentativa do país de reverter a situação através de tarifas é inviável, dado que o déficit de transações correntes alcança US$ 1 trilhão, equivalente ao superávit comercial da China.
Apesar do cenário favorável para o Brasil, Haddad reconheceu que o país não está livre dos efeitos da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. A decisão do presidente Trump de implementar uma taxa adicional de 50% sobre produtos chineses, elevando as tarifas a 104%, terá impactos diretos no Brasil, que é um dos principais parceiros comerciais da China. Em resposta a isso, o dólar teve uma valorização de 1,29%, sendo cotado a R$ 5,91.
O ministro sugeriu que o governo brasileiro mantenha uma postura diplomática, ampliando os laços comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas também com a Europa e o Sudeste Asiático, especialmente com a China.
Em relação à política fiscal brasileira, Haddad afirmou que o governo está comprometido com a meta fiscal. Ele esclareceu que a elevação da dívida pública não é atribuída ao resultado primário, ou seja, à diferença entre despesas do governo e receitas, mas sim ao aumento das taxas de juros. Para contornar essa situação, Haddad sugeriu que o governo crie condições para a redução dos juros, indicando que a taxa real atual de 8% em um contexto de inflação de 5% é insustentável.
O ministro também negou que as recentes ações do governo, como a liberação de crédito consignado e o saque-aniversário do FGTS, visem estimular a economia de modo a comprometer o trabalho do Banco Central. Segundo Haddad, o objetivo dessas medidas é promover justiça social, como no caso do crédito consignado, que ajudará a prevenir o superendividamento em um ambiente de juros altos.
A ampliação da faixa de isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil, segundo ele, representa uma promessa de campanha que visa beneficiar um número significativo de brasileiros, sendo um projeto fiscalmente neutro que acarretará novas tributações apenas para uma pequena fração da população. O ministro reafirmou que considera essa iniciativa justa e necessária.