O Hamas liberou, na noite de uma sexta-feira, um corpo que afirma ser o da refém israelense Shiri Bibas. A identificação incorreta deste corpo, que ocorreu durante uma entrega na semana, levantou preocupações sobre a estabilidade do frágil acordo de cessar-fogo em Gaza. Autoridades médicas em Israel relataram que equipes forenses se preparavam para analisar o corpo, que foi transferido pelo Hamas através da Cruz Vermelha, a fim de confirmar sua identidade. Na quinta-feira, o grupo militante palestino concordou em entregar os corpos de Shiri Bibas e seus dois filhos pequenos, Kfir e Ariel, além dos restos mortais de um quarto refém, como parte do cessar-fogo que suspendeu os combates em Gaza desde o mês anterior.
Quatro corpos foram entregues e as identidades dos meninos Bibas e do outro refém, Oded Lifshitz, foram confirmadas. No entanto, especialistas em Israel indicaram que o quarto corpo pertencia a uma mulher não identificada, e não a Shiri Bibas, que foi sequestrada juntamente com seus filhos e seu marido, Yarden, durante o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. Basem Naim, membro do braço político do Hamas, comentou que “erros infelizes” podem acontecer, especialmente em virtude do bombardeio de Israel que misturou os corpos de reféns israelenses e palestinos, muitos dos quais permanecem enterrados nos escombros. Ele enfatizou que o Hamas não tem interesse em reter corpos ou desrespeitar acordos.
A falha em entregar o corpo correto e a forma pública da entrega dos quatro caixões na quinta-feira geraram indignação em Israel e provocaram uma ameaça de retaliação do primeiro-ministro israelense. Em uma declaração em vídeo, o premier prometeu agir com firmeza para trazer Shiri de volta, junto com todos os demais reféns, vivos ou mortos, e assegurou que o Hamas pagaria pelo que classificou como uma violação cruel do acordo. O Hamas relatou que as crianças e sua mãe foram mortas em um ataque aéreo israelense, e um diretor de mídia do governo de Gaza responsabilizou Netanyahu pelas mortes. Contudo, as Forças Armadas de Israel afirmaram que investigações mostraram que os meninos Bibas foram mortos intencionalmente por seus sequestradores.
O Escritório de Direitos Humanos da ONU manifestou que não tinha informações sobre as mortes dos reféns e pediu uma investigação séria sobre as circunstâncias. A entidade ressaltou que o retorno dos restos mortais é um objetivo humanitário essencial. Este incidente evidente ressaltou a fragilidade do acordo de cessar-fogo, que foi mediado com a cooperação dos Estados Unidos, Catar e Egito no mês passado.
De acordo com o acordo entre as partes, seis reféns vivos devem ser libertados posteriormente, em troca de 602 prisioneiros e detidos palestinos. Esse intercâmbio deve abrir caminho para o início das negociações sobre uma segunda fase do cessar-fogo nos próximos dias. Um porta-voz militar israelense reiterou que o Hamas deve cumprir o acordo de devolver os reféns, tanto vivos quanto mortos.
O gabinete do primeiro-ministro confirmou que foi notificado dos nomes dos reféns a serem libertados, que devem ser entregues por volta da manhã. Em meio ao aumento das tensões sobre o cessar-fogo em Gaza, Netanyahu também ordenou a intensificação das operações na Cisjordânia ocupada, em resposta a uma série de explosões que atingiram depósitos de ônibus perto de Tel Aviv.
Tanto Israel quanto o Hamas têm se acusado mutuamente de violações do cessar-fogo, com o Hamas ameaçando atrasar a libertação dos reféns, alegando que Israel não tem permitido a entrada de materiais de ajuda em Gaza, uma afirmação que Israel refutou. A Cruz Vermelha expressou preocupação com a falta de um processo discreto e digno na entrega dos corpos.
O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, um dos principais grupos representativos, expressou sua indignação e desespero com a não devolução do corpo de Shiri Bibas, mas ainda assim pediu a continuidade do cessar-fogo para que os 70 reféns permanecessem em Gaza. Apesar da insistência sobre o retorno de Shiri, não houve indicação de que Israel não participaria das negociações sobre uma nova fase do cessar-fogo. Fontes sugerem que os negociadores israelenses estão considerando uma extensão do cessar-fogo de 42 dias para facilitar as discussões sobre questões delicadas, incluindo o futuro do Hamas em Gaza.