Em meio a desafios financeiros decorrentes de cortes orçamentários do governo federal, a Universidade Harvard declarou sua intenção de vender participações em fundos de private equity, totalizando aproximadamente US$ 1 bilhão. A Harvard Management Co., responsável pela gestão do fundo patrimonial da universidade, que possui cerca de US$ 53 bilhões, está considerando transferir esse portfólio para a gestora Lexington Partners, em uma transação secundária, conforme informações de fontes vinculadas ao assunto. Há a expectativa de que novos sócios possam ser incorporados à transação.
As instituições de ensino superior nos Estados Unidos, incluindo Harvard, têm enfrentado dificuldades nos investimentos em private equity, uma vez que as condições do mercado não têm favorecido a saída de empresas. Os atrasos nos retornos desses investimentos têm comprometido a liquidez, levando muitas universidades a depender do desempenho de ações e títulos públicos para manter sua saúde financeira. Até junho do ano passado, Harvard alocava 40% de seu fundo patrimonial em private equity.
O governo Trump tem utilizado a estratégia de suspender verbas federais destinadas a universidades que não atendem a determinadas exigências, especialmente relacionadas à eliminação de programas de diversidade e inclusão, além de restringir manifestações de alunos e docentes com visões ideológicas opostas. Em relação a Harvard, o governo federal anunciou um bloqueio de US$ 9 bilhões. Em abril, Trump decidiu congelar repasses de US$ 2,2 bilhões à universidade, argumentando que a instituição não havia tomado medidas suficientes para combater práticas antissemíticas em seu campus.
Como resposta, a administração de Harvard ingressou com uma ação judicial em um tribunal federal em Boston no dia 22 de abril, buscando impedir o governo federal de manter sua decisão de bloquear os repasses. A ação judicial destaca que a retenção de verbas federais está sendo utilizada pelo governo como um meio de influência sobre decisões acadêmicas da universidade.
O presidente da universidade, Alan Garber, publicou uma carta criticando as políticas do governo Trump, reafirmando a determinação de Harvard em preservar sua autonomia e os direitos constitucionais da instituição. Na carta, Garber expressou preocupação com a vigilância do governo sobre as opiniões de alunos e funcionários, além da tentativa de limitar a influência daqueles que possuem perspectivas ideológicas divergentes.
Esta manifestação por parte de Harvard representa uma das primeiras reações públicas significativas de uma instituição educacional em oposição ao governo federal. Desde sua fundação em 1636, Harvard já formou oito presidentes dos Estados Unidos, entre eles Barack Obama, que também defendeu a universidade em redes sociais após comentários desfavoráveis feitos por Trump.
O porta-voz da Casa Branca, Harrison Fields, afirmou que Harvard não estaria cumprindo os requisitos necessário para ter acesso aos recursos dos contribuintes, que, segundo ele, são um privilégio. Além dos cortes de verbas, a administração Trump também tem trabalhado para revogar a isenção fiscal federal da universidade, que registrou uma receita operacional de US$ 6,5 bilhões no ano fiscal encerrado em junho. A universidade enfrenta o risco de perder outros US$ 7 bilhões, o que a levou a buscar US$ 750 milhões em financiamento de investidores do mercado financeiro.
Recentemente, a Universidade Columbia consentiu em alterar suas políticas de inclusão acadêmica em resposta às advertências do governo de que congelaria US$ 400 milhões em financiamentos destinados à instituição. Nas semanas recentes, a Casa Branca também anunciou bloqueios totalizando US$ 1,8 bilhão, afetando outras universidades como Princeton, Johns Hopkins e Universidade da Pensilvânia.