sexta-feira, janeiro 31, 2025
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Imigração sob ataque: a nova estratégia de Trump

Entre os muitos decretos assinados pelo presidente Donald Trump nos primeiros dias de sua administração, os que mais impactam o público americano são aqueles que afetam diretamente os 11 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos. A cada vez que a polícia de imigração e o Departamento de Segurança Interna chegam a uma residência e levam pessoas sob custódia, essas ações têm o apoio de cerca de 60% da população, incluindo 54% dos latinos e 44% dos democratas. Este apoio reflete o temor generalizado da “invasão” que teria ocorrido sob o governo de Joe Biden, acusado de permitir a entrada de “milhões de criminosos”, expressão que, repetida frequentemente por Trump, acaba adquirindo ares de verdade inquestionável. Há uma abundância de vídeos mostrando operações de imigração em cidades como Chicago, Miami e Nova York, comprovando o empenho das autoridades em realizar a “maior deportação em massa da história do país”.

Após declarar emergência nacional na fronteira sul e efetuar um fechamento total, Trump chegou a ordenar a retenção de aviões prontos para decolar com turistas que tinham documentos em dia. A resposta resultou na prisão de mais de 2.000 pessoas em apenas dois dias, com operações conjuntas da polícia de imigração, FBI e DEA, incluindo indivíduos que estavam em escolas e igrejas, locais que eram considerados seguros durante a gestão anterior. A meta estabelecida é a de prender entre 1.500 e 1.600 pessoas diariamente, com um objetivo final de alcançar 1 milhão de detenções por ano. Com isso, o clima de medo se intensificou na população, que é incentivada a denunciar imigrantes suspeitos. Anúncios também informaram que Guantánamo será utilizada para deter 30.000 pessoas indocumentadas. Embora o foco declarado seja em indivíduos sem documentos com antecedentes criminais, muitos outros sem irregularidades podem ser capturados no processo. Organizações não governamentais relatam que trabalhadores estão faltando ao serviço e impedindo seus filhos de ir à escola por medo de detenções. Especialistas sinalizam que há um claro esforço de dramatização do processo, com o intuito de mostrar que a situação se tornou crítica.

Paralelamente ao aumento das operações policiais, o governo lançou regras rigorosas em outras áreas. Na Gestão de Concessões e Financiamento, que beneficia a população de baixa renda e o Medicare, houve a ordem de congelar todos os repasses até nova determinação, embora essa ordem tenha sido revertida após uma decisão judicial. Além disso, o governo aboliu completamente as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão em todas as instâncias federais e das Forças Armadas, tornando esses termos praticamente proibidos no âmbito federal. Entretanto, nada se compara à perseguição implacável aos imigrantes. Segundo Tom Homan, ex-diretor da ICE e indicado por Trump como responsável pela fronteira, as operações de prisão estão apenas começando, com promessas de mais detenções em todo o país. Homan, em visita a Chicago, fez um alerta sobre o afastamento e processo de qualquer funcionário público que não cumprir as novas diretrizes.

A política de Trump já teve repercussões diretas, com os primeiros voos de deportação partindo para a América Latina, mesmo que muitos dos deportados tivessem ordens já emitidas durante o governo Biden. Recentemente, dois aviões militares transportaram 265 pessoas de volta à Guatemala, e milhares de mexicanos também foram enviados de volta. O episódio que chamou mais atenção foi quando a Colômbia, em resposta à deportação, se opôs ao pouso de um voo, levando Trump a impor tarifas de 25% sobre produtos colombianos. Embora o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, tenha tentado retaliar, acabou por ceder rapidamente. Analistas destacam que Trump usará táticas de pressão econômica como um meio de coação. O Brasil também se viu envolvido, com um grupo de 88 imigrantes sendo deportados e viajando algemados, uma cena que o governo Lula considerou “degradante.” Lula convocou uma reunião de ministros e autoridades para discutir a situação, enquanto o governo avalia a melhor maneira de abordar a questão sem gerar crise diplomática.

Com a continuidade das medidas drásticas de Trump, as implicações podem ser significativas para a economia americana. O Departamento de Segurança Interna estima que imigrantes indocumentados representem quase 5% da força de trabalho, contribuindo em setores como agricultura, construção civil e serviços. A escassez repentina de mão de obra pode levar a um aumento de custos, com análises indicando que isso poderia resultar em um aumento da inflação em até nove pontos percentuais até 2028. Além dos custos diretos, a mobilização de recursos para prender e deportar um milhão de imigrantes anualmente também acarretará custos financeiros significativos a longo prazo. Apesar disso, essa temática ainda não gera ampla discussão no país. Trump continua a ganhar apoio entre uma significativa parcela da população, que, embalada por um sentimento anti-imigração crescente, vê os estrangeiros como uma ameaça ao emprego dos trabalhadores americanos, repetindo a narrativa de que a ordem é prender todos, independentemente do custo.

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