O plano do presidente Donald Trump para transferir palestinos da Faixa de Gaza para países vizinhos gerou intensas críticas, levando opositores a acusá-lo de promover a limpeza étnica. Após a proposta inicial de “limpar” o território, especialistas alertaram para as implicações morais e legais envolvidas, além da possibilidade de que um aumento no número de refugiados desestabilizasse os estados árabes vizinhos.
Tanto o Egito quanto a Jordânia enfrentariam uma forte oposição interna se fossem percebidos como coniventes com uma nova Nakba palestina, conforme indicado por Hasan Alhasan, pesquisador sênior de política do Oriente Médio em um instituto do Bahrein. A Nakba refere-se ao episódio de 1948, quando aproximadamente 700 mil palestinos foram forçados a deixar suas casas devido à criação do Estado de Israel, resultando na permanência de milhões de refugiados em países vizinhos sem cidadania ou opções de reassentamento.
A Jordânia já abriga milhões de palestinos, e qualquer alteração demográfica pode comprometer a estabilidade da monarquia hachemita, observou Alhasan. Além disso, tanto Egito quanto Jordânia não possuem recursos financeiros suficientes para acolher um número significativo de novos refugiados.
O Hamas, por sua vez, expressou veemente oposição às declarações do presidente americano, ressaltando que a ideia de deportar palestinos da Faixa de Gaza revela uma profunda falta de compreensão sobre a região. O representante do Hamas, Izzat el-Reshiq, enfatizou que Gaza não é uma propriedade, mas sim uma terra com significados históricos e culturais, pedindo ao presidente dos EUA que reverta suas declarações, as quais, segundo ele, intensificam a tensão.
Reshiq também instou os países árabes a convocar uma cúpula árabe-islâmica para discutir as declarações de Trump. Ele destacou que as negociações sobre um acordo de cessar-fogo estão em andamento, e atribuiu a interrupção a ações por parte do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Os países vizinhos, Egito e Jordânia, são aliados próximos dos Estados Unidos no Oriente Médio e têm recebido ajuda americana ao longo dos anos. No entanto, a influência desses países em Washington foi diminuída com a ascensão de potências árabes do Golfo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. As especialistas indicaram que é incerto até que ponto Egito e Jordânia se empenharão para comunicar a Washington que o deslocamento em massa de palestinos não resolverá o conflito. Ambos os países já recebem um número considerável de refugiados e se preocupam com a segurança, temendo que seus territórios se tornem alvos de ataques contra Israel, o que poderia afetar seus tratados de paz.