O Brasil foi incluído no grupo de países que enfrentam uma taxação mínima de 10% sobre produtos importados, conforme indicado em uma lista divulgada recentemente. Esta medida, proclamada pelo governo anterior dos Estados Unidos como parte de um esforço de “libertação”, implica em tarifas muito inferiores às impostas a outros países, que podem chegar a 50%. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) analisou essa decisão e determinou que seu impacto será considerado “crítico” ou “alto” em 19 produtos do setor agropecuário.
Diante desse cenário, é imperativo que o Brasil adote uma abordagem estratégica, segundo especialistas. O país, que ocupava a terceira posição entre os principais fornecedores de produtos agropecuários aos Estados Unidos — atrás apenas de China e União Europeia — verá os efeitos dessa taxação em categorias específicas. A CNA destacou que os produtos mais afetados serão aqueles em que o Brasil se destaca como o maior fornecedor para o mercado americano, sem enfrentar concorrência relevante de outros países. Exemplos incluem o café verde e o suco de laranja, que possuem os Estados Unidos como um dos principais destinos.
Entre os produtos críticos listados, encontra-se a carne bovina industrializada. A dependência do Brasil em relação ao mercado americano para a importação desse produto torna a alteração do fluxo de exportação bastante desafiadora, na visão da CNA. Em relação ao suco de laranja e ao café verde, o impacto é classificado como “alto”, sugerindo que esses produtos podem ter dificuldades para serem absorvidos por outros mercados internacionais. A CNA advertiu que o aumento das tarifas de importação pode prejudicar a competitividade brasileira nestes setores, afetando as receitas dos produtores, já que os EUA contam com alguma produção local que poderia ser favorecida em comparação com a brasileira.
No que diz respeito ao impacto geral das tarifas, um pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), Felippe Serigati, acredita que as taxas terão um efeito marginal no volume de exportações. Segundo ele, a quantidade de produtos agropecuários enviados ao mercado norte-americano deve se manter estável, embora os consumidores americanos possam ser os principais afetados pela elevação dos preços.
Serigati também apontou que as tarifas poderão ocasionar uma alteração no fluxo de exportação da carne bovina brasileira, com os Estados Unidos sendo o segundo maior comprador do produto, atrás apenas da China. Ele observou que, devido à guerra tarifária, a China poderá aumentar suas compras do Brasil, uma vez que anunciou tarifas recíprocas de 34% sobre todas as importações dos Estados Unidos. Consequentemente, a carne bovina americana poderá se tornar mais cara para os consumidores chineses, levando o país asiático a considerar o Brasil como uma alternativa mais atrativa. Essa dinâmica já foi observada durante o primeiro mandato do ex-presidente Trump, quando a China retaliou contra os EUA e começou a adquirir soja em maiores volumes do Brasil.