Na terça-feira, 10, uma mensagem no Instagram informava que o perfil “@gabrielar702” não estava mais ativo na plataforma. No dia anterior, o advogado Celso Vilardi, que atua na defesa de Jair Bolsonaro na investigação sobre a tentativa de golpe, surpreendeu o tenente-coronel Mauro Cid ao mencionar essa conta, questionando se ele a reconhecia ou se havia discutido seu acordo de delação premiada com outros. A defesa do ex-presidente já esperava a resposta, mas queria ressaltar que Mauro Cid havia mentido perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse momento, Cid hesitou, afirmando: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa. Gabriela é o nome da minha esposa”.
O perfil “@gabrielar702” ainda estava ativo naquele momento e, conforme reportagens que circularam na mídia, foi através dele que Cid fez comentários sobre questões confidenciais do seu acordo de colaboração, além de atacar investigadores e o ministro Alexandre de Moraes. O tenente-coronel se reuniu pela primeira vez com a Polícia Federal para negociar um acordo de delação em 25 de agosto de 2023. Naquele período, ele estava preso há quase cinco meses, acusado de falsificação de cartões de vacina de Bolsonaro, e, com investigações se aprofundando, sentia que não havia saída.
Três dias após a primeira reunião, Cid retornou à PF. Com as negociações avançando, ele assinou um termo de confidencialidade para a delação, registrado sob o número 2405578/2021. Esse documento estabelecia diversas condições que o militar deveria seguir para conseguir possíveis benefícios jurídicos, incluindo a obrigação de não mentir, omitir ou desviar a investigação com informações contraditórias, além de não proteger quaisquer alvos da investigação. Por exemplo, na 11ª cláusula, Cid comprometeu-se a “falar a verdade incondicionalmente em todas as investigações”. Nas cláusulas 18 e 19, concordou em manter sigilo sobre as revelações do acordo, e na 21ª, aceitou que o acordo seria annulled caso ele descumprisse qualquer uma das regras estabelecidas. A revelação sobre o uso do perfil “@gabrielar702” poderá testar a legitimidade do acordo de delação.
Advogados detectaram um “treinamento intenso” de Cid para os interrogatórios. No primeiro dia de depoimentos, foi observado que ele trouxe anotações e mensagens coletadas pela Polícia Federal ao longo da investigação, minimizando a importância de conversas de WhatsApp e reuniões que, segundo a Procuradoria-Geral da República, fazem parte do enredo de uma tentativa de golpe no Brasil. Cid descreveu muitos dos apelos anti-democráticos como “bravatas” e comparou uma das reuniões com militares de elite das Forças Especiais a uma “conversa de bar”, afirmando que atuava como um “anteparo” ao então presidente. No entanto, não contava com a exposição do perfil “@gabrielar702” durante seu depoimento.