15 abril 2025
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Ironias Reveladas: Uma Perspectiva Única na Análise Atual

Donald Trump transformou o comércio internacional em uma ferramenta que tem o potencial de destruir riqueza. É uma contradição que um empresariado da elite de Nova York encoraje seu país a investir em um modelo de Estado hiperativo e protecionista, almejando reanimar o “espírito animal” do capitalismo dos EUA.

O contraste na reação do principal concorrente dos Estados Unidos é digno de nota. A China, sob um regime comunista, posiciona-se como defensora do livre comércio, que fundamenta a teoria do liberalismo desenvolvida pelo economista escocês Adam Smith há 250 anos. A ascensão da China no cenário mundial é relativamente recente, à luz das perspectivas ocidentais. Para essa potência asiática, no entanto, a percepção do tempo é distinta; eventos históricos, como a Revolução Francesa, podem ser considerados modernos demais para certos julgamentos.

Em 1989, enquanto a União Soviética passava por um colapso, a China iniciava um ciclo de crescimento baseado em uma economia altamente controlada pelo Estado. Por sua vez, o Brasil vivia a sua primeira eleição presidencial direta após 21 anos de regime militar. Luiz Inácio Lula da Silva, representando o Partido dos Trabalhadores, destacou-se entre 22 candidatos com uma proposta de Estado mais intervencionista e protecionista, em um cenário econômico já caracterizado por fechamentos e estagnação industrial. Elementos da antiga matriz de planejamento soviético influenciavam as ideias do governo propostas, que previam um “controle das atividades” das empresas, incluindo importações e a formação de preços para os consumidores. Além disso, enfatizava-se a possibilidade de o governo recorrer à centralização de câmbio e comércio exterior.

É importante observar que qualquer comparação entre Lula e Trump pode ser vista com ceticismo, dado o desdém mútuo entre os dois. Contudo, no âmbito político, há quem identifique semelhanças na essência de certas ideias, incluindo o apoio à nostalgia imperial promovida por Vladimir Putin, em relação ao seu expansionismo na Ucrânia.

As diferenças, porém, se manifestam claramente na guerra comercial global iniciada por Trump. O governo brasileiro, assim como o PT, não rejeita a simpatia pelas propostas alternativas da China, mas não se manifesta explicitamente em favor de uma escolha preferencial. As tarifas impostas pelos EUA têm facilitado diálogos sobre colaborações em setores industriais e de infraestrutura relacionados a portos do Pacífico, frequentemente referidos pelo Brasil como “estratégicos”. Esses acordos podem ser definidos em um curto espaço de tempo.

Adicionalmente, destaca-se a intenção de fortalecer a parceria discreta com o governo chinês em diversos fóruns, em particular no bloco conhecido como Brics, que foi idealizado como uma ONU alternativa sem membros com claro poder de veto. Esta abordagem pode facilitar a realização de acordos com países asiáticos. Simultaneamente, o governo brasileiro está explorando alianças regionais, onde revitalizar o Mercosul, atualmente, depende mais do interesse da União Europeia em acelerar um acordo comercial que está em negociação há duas décadas.

Recentemente, surgiu a proposta de reativar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Há cerca de trinta anos, o Itamaraty tem buscado criar uma “comunidade” de nações na América do Sul. Em 2003, Lula percebeu a oportunidade de utilizar essa iniciativa como um contraponto à influência dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos. Essa postura anti-EUA impulsionou as ambições de liderança de Lula, Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor Kirchner (Argentina). No entanto, Chávez e Kirchner se deixaram levar pela perspectiva histórica de reduzir o poder regional do Brasil, que detém a metade do território, da população e do PIB da América do Sul.

Quando o então chanceler Celso Amorim, arquiteto da proposta da Unasul e atual assessor de Lula, apresentou a iniciativa, Chávez ironizou: “O que vocês estão propondo é uma ‘Alquita’”, referindo-se de forma sarcástica a uma versão reduzida da proposta americana para a criação de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Chávez, Lula e Kirchner concordaram em enterrar a Alca como uma representação do imperialismo dos Estados Unidos.

Mais de duas décadas depois, Lula inovou ao trazer a Unasul à discussão, como um modelo para acordos comerciais regionais. A antiga “Alquita” nunca se consolidou, mas resultou na construção de duas sedes: uma no Equador, destinada à burocracia central, e outra na Bolívia, para o Parlamento Sul-Americano, totalizando um investimento de 200 milhões de dólares, dos quais 38% foram custeados pelo Brasil.

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