Em um momento, Marine Le Pen apresentava taxas de aprovação entre 34% e 37% para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2027. Logo depois, sua situação se transformou drasticamente ao ser condenada a quatro anos de prisão, possivelmente cumprida em regime domiciliar com tornozeleira, além de ser considerada inelegível por cinco anos, com execução imediata da decisão. Este acontecimento abalou o cenário político francês, levando analistas a especularem sobre quem poderia assumir a candidatura presidencial, caso Le Pen não estivesse disponível. Jordan Bardella, considerado seu protegido, surge como um potencial candidato. No entanto, a capacidade de Le Pen em transferir votos a ele permanece uma incógnita.
O Agrupamento Nacional, partido criado após a mudança de nome da Frente Nacional devido a sua associação negativa com o extremismo do ex-líder Jean-Marie Le Pen, enfrenta um desafio: não possui outro candidato de destaque. Entre os possíveis adversários do centro, Édouard Philippe, ex-primeiro-ministro, e Gabriel Attal, um jovem de 36 anos e também ex-primeiro-ministro, se destacam. Philippe aparece com 21% nas pesquisas, enquanto Attal possui 20%. Ambos defendem políticas imigratórias mais rigorosas, um tema central no debate político francês que impulsionou Marine Le Pen de uma posição marginal à competitividade real para a presidência, à medida que ela buscou suavizar a imagem de extrema-direita de seu partido, agora mais alinhado ao populismo de direita.
As comparações com a atual situação política no Brasil podem ser feitas, mas devem ser analisadas com cautela. Existe a presença de candidatos populares, similarmente pressionados por questões judiciárias, cujos apoiadores afirmam estar enfrentando uma perseguição judicial. Além disso, as discussões em torno de possíveis substitutos em face da inelegibilidade também se fazem presentes.
No entanto, as situações se divergem significativamente. Marine Le Pen foi condenada, juntamente com oito membros de seu partido, por desvio de fundos. O caso envolve o uso indevido de recursos destinados a manter seu escritório como deputada no Parlamento Europeu, sem evidências de enriquecimento pessoal, conforme compreendido no sentido tradicional de corrupção. O atual primeiro-ministro, François Bayrou, enfrenta um caso similar, conhecido na França como “caso dos assessores parlamentares”.
Esses episódios geram reações semelhantes em países como França e Brasil: a oposição considera uma conquista significativa que poderá eliminar um político impopular, enquanto os apoiadores clamam por perseguição política disfarçada de justiça. Bardella expressou preocupações sobre as tentativas de bloquear o acesso ao poder. Observa-se também que outros políticos de direita, como François Fillon e Nicolas Sarkozy, foram alvo de rigor judiciário, rotulado como “maximalista”, que parece afetar desproporcionalmente um dos lados do espectro político.
Se a condenação de Le Pen for mantida, isso poderá resultar em um ambiente político conturbado até 2027, conforme destacado em editorial de um periódico. A questão que persiste é se Bardella poderá cultivar a lealdade a Marine Le Pen enquanto busca estabelecer seu próprio caminho em uma eleição tão competitiva. A dúvida sobre suas credenciais para a candidatura presidencial permanece.
O estado atual da política francesa é ainda mais complexo devido ao enfraquecimento acelerado do presidente Emmanuel Macron, que gerou vulnerabilidades em todo o espectro do centro político. Ademais, existem problemas sistêmicos, como a insustentabilidade do estado de bem-estar social e a presença de uma significativa população estrangeira, que em alguns casos demonstra resistência aos valores fundamentais da República Francesa, incluindo uma minoria que simpatiza com o islamismo radical. A questão da imigração foi um elemento crucial para a ascensão de Marine Le Pen, não obstante a falta de qualquer força política apta para lidar com tal magnitude de problemas. Muitos cidadãos franceses reconhecem essa inadequação, o que levou algumas pessoas a se alinharem com as propostas de Le Pen, especialmente na classe trabalhadora, que historicamente foi considerada um reduto da esquerda.
A frustração entre os cidadãos é um sentimento arriscado e incerto, não havendo garantias de que Bardella, um jovem de 29 anos, descendente de italianos e que conquistou a simpatia do eleitorado feminino jovem, logrará capitalizar sobre essas emoções ou se converterá em um beneficiário delas, embora sua menor rejeição seja uma vantagem. O delfim do movimento, conforme é conhecido na terminologia francesa referente a herdeiros de trono, enfrenta desafios significativos ao mesmo tempo em que possui uma oportunidade notável de se destacar. Marine Le Pen afirmou que Bardella é um recurso valioso para o movimento, expressando sua intenção de lutar por suas crenças e pelo futuro de seu partido.