Durante um período superior a 40 anos, um juiz aposentado, identificado como José Eduardo Franco dos Reis, de 67 anos, utilizou um nome falso: Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield. Essa fraude foi descoberta em outubro de 2024, quando ele fez uma solicitação para uma segunda via da carteira de identidade sob essa identidade fictícia.
A investigação conduzida pela Polícia Civil, por intermédio do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), revelou que ambos os nomes tinham registros distintos em seu sistema, mas compartilhavam a mesma biometria. Um exame papiloscópico confirmou que se tratava da mesma pessoa. Foi apurado que José Eduardo Franco dos Reis obteve diversos documentos utilizando essa identidade falsa, como dupla inscrição eleitoral, inscrição dupla no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e um passaporte, que aparentemente foi utilizado para deixar o país após a descoberta da fraudes. Sua identidade fictícia parece ter sido criada em setembro de 1980.
O nome falso permitiu que ele cursasse Direito na Universidade de São Paulo (USP) durante a década de 1980 e, posteriormente, ingressasse na magistratura paulista, onde ocupou posições notáveis no Tribunal de Justiça de São Paulo e chegou a coordenar o Núcleo Regional da Escola Paulista da Magistratura em Serra Negra, São Paulo. Em 1995, imediatamente após ser aprovado no concurso para juiz, fez uma declaração em que afirmava ser descendente de “nobres britânicos”.
O Ministério Público de São Paulo denunciou José Eduardo Franco dos Reis por uso de documento falso e falsidade ideológica. A Justiça acolheu a denúncia, transformando-o em réu. Em decisão administrativa, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu suspender o pagamento da aposentadoria do magistrado.
A denúncia afirmou que ele criou a persona de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield como uma identidade alternativa, sem renunciar à sua identidade verdadeira, mantendo, assim, documentação dupla. O caso permanece sob sigilo judicial, e os motivos que levaram o magistrado a usar uma identidade falsa por tanto tempo ainda não foram esclarecidos. A defesa do juiz foi contatada, mas não houve resposta até o momento.