Líderes árabes aprovaram na madrugada do dia 5 um plano voltado para a reconstrução da Faixa de Gaza, totalizando US$ 53 bilhões (aproximadamente R$ 312 bilhões). Essa iniciativa propõe um mapa de desenvolvimento econômico a longo prazo sob uma futura administração da Autoridade Palestina (AP), que já exerce um controle parcial sobre a Cisjordânia. O plano surge como uma alternativa à proposta do ex-presidente Donald Trump, que visava criar uma “Riviera do Oriente Médio” sob domínio norte-americano, o que implicaria em um deslocamento da população palestina. A posição árabe, no entanto, foi recebida com críticas por parte dos Estados Unidos.
Qual é o conteúdo do novo plano?
Apresentado durante uma cúpula da Liga Árabe no Cairo, o plano prioriza a entrega de ajuda humanitária de emergência, a reconstrução da infraestrutura devastada e o desenvolvimento econômico sustentável para a região de Gaza. O documento, com 112 páginas, inclui imagens feitas por inteligência artificial que ilustram projetos de habitação, jardins e centros comunitários, além de propostas para um porto comercial, um centro de tecnologia, hotéis à beira-mar e um aeroporto.
O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, enfatizou na reunião que essa proposta garantiria o direito dos palestinos de “permanecer em suas terras”. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou a disposição da ONU em “colaborar plenamente” para a efetivação do plano. A cúpula concluiu com um comunicado que anunciou a adoção de um “plano árabe abrangente”, pedindo à comunidade internacional que apoie essa proposta, que deve ocorrer em conjunto com o lançamento de um processo político em direção à criação de um Estado palestino.
Desafios à frente
O encontro solicitou uma unificação do governo palestino sob a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), a qual é a principal força política da AP e exclui o Hamas. Contudo, a proposta egípcia não esclareceu quem será responsável pela administração da área devastada, mencionando apenas um “comitê administrativo palestino” no rascunho do comunicado.
Além disso, a ideia não contou com a aceitação de Israel. Planos anteriores voltados para Gaza falharam devido à oposição do governo israelense. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já rejeitou qualquer papel futuro para a AP na administração do território, afirmando que deseja controle permanente sobre todas as terras palestinas. O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que o plano de reconstrução “não abordou” as realidades após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Brian Hughes, também criticou a proposta, afirmando que “não considera que Gaza seja atualmente habitável” e reiterou que o ex-presidente Trump defende uma reconstrução de Gaza sem a presença do Hamas.
Dentro da Faixa de Gaza, o Hamas, apesar de ter sua força reduzida após 16 meses de confronto, continua a ser uma relevante força política, e é improvável que aceite um processo que o exclua. O plano egípcio reconheceu o desafio que as facções armadas representam para a reconstrução, mas propôs que a questão possa ser resolvida através de um “processo político confiável” que restaure os direitos dos palestinos e ofereça um caminho claro para o futuro.