segunda-feira, fevereiro 3, 2025
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Lukashenko pode garantir mais um mandato na Bielorrússia; oposição critica.

Os cidadãos da Bielorrússia estão participando das eleições presidenciais neste domingo (26), que provavelmente irão estender o mandato de Alexander Lukashenko, que ocupa o cargo desde 1994 e é o líder com mais tempo no poder na Europa. Na última eleição, em 2020, Lukashenko anunciou uma vitória com mais de 80% dos votos, mas a oposição contestou o resultado, afirmando que Sviatlana Tsikhanouskaya era a verdadeira vencedora. Isso desencadeou uma onda de protestos em Minsk, levando à repressão mais severa nos tempos pós-soviéticos do país. Em 2025, Tsikhanouskaya não está convocando os bielorusso a saírem às ruas, pois considera que os “custos” dessa ação são elevados.

Desde que o governo respondeu às manifestações de 2020, Tsikhanouskaya tem vivido em exílio com seus filhos. Ativistas dos direitos humanos relataram que mais de 1.200 prisioneiros políticos estão detidos na Bielorrússia, incluindo seu marido, Sergei, com quem ela não consegue se comunicar há quase dois anos. Sua candidatura em 2020 ocorreu após a prisão do marido, que a impediu de concorrer. Lukashenko permitiu que Tsikhanouskaya se candidatasse, uma decisão que representou a maior ameaça ao seu regime em décadas. Nigel Gould-Davies, ex-embaixador do Reino Unido na Bielorrússia, comentou que Lukashenko subestimou a insatisfação do povo. Ele observou que agora o presidente não está se arriscando de forma alguma.

Atualmente, Lukashenko enfrenta apenas quatro adversários simbólicos, sendo que um deles declarou estar concorrendo “não em vez de, mas ao lado do presidente”. Pela primeira vez, não há observadores independentes acompanhando a votação, e as seções eleitorais no exterior estão fechadas, o que impede cerca de 3,5 milhões de cidadãos que vivem fora do país de votar.

Se Lukashenko completar seu sétimo mandato, estará com 74 anos. No entanto, não há indícios de que ele planeje se afastar do cargo. Durante uma visita a uma igreja próxima a Minsk, ele afirmou: “Enquanto eu tiver saúde, ficarei com vocês”. Na semana anterior, zombou de líderes da oposição, insinuando que eles estavam torcendo por sua morte. “Eles dizem: ‘Ele está prestes a cair, sua voz não é a mesma, ele tem dificuldades para falar.’ Não prenda a respiração”, disse.

Embora não tenha convocado grandes manifestações, Tsikhanouskaya pediu aos bielorrussos que expressem sua discordância nas urnas. Em um comunicado no Telegram, escreveu que as pessoas que são forçadas a participar dessa “eleição falsa” deveriam votar contra todos os candidatos. O movimento da oposição descreveu as “eleições” como uma “farsa meticulosamente orquestrada”, destinada a perpetuar o controle do ditador ilegal que está no poder. Tanto o Parlamento Europeu quanto o Departamento de Estado dos EUA qualificaram a eleição como uma “farsa”. O Departamento de Estado americano afirmou que “a repressão é fruto da fraqueza, não da força” e que as medidas extremas para sufocar a dissidência revelam que o regime de Lukashenko teme seu próprio povo.

Após sua votação neste domingo (26), Lukashenko afirmou a jornalistas que não se importa com o reconhecimento do Ocidente em relação às eleições na Bielorrússia. O ex-chefe de uma fazenda coletiva soviética, de 70 anos, sobreviveu ao “susto” nas eleições de 2020 em parte graças ao apoio de seu aliado de longa data, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, cujo suporte se tornou crucial para seu governo. Depois que funcionários da mídia estatal se demitiram em solidariedade à oposição, Putin enviou propagandistas do Kremlin para substituí-los. Desde então, a dependência da Bielorrússia em relação a Moscou se intensificou.

A Rússia, no entanto, tem demandado um preço por seu apoio, utilizando o território bielorusso como uma “plataforma de lançamento” para a invasão em larga escala da Ucrânia em 2022. Desde então, Lukashenko autorizou a instalação de armas nucleares táticas em seu território. Em dezembro, ele também mencionou que estava se preparando para receber um novo míssil balístico da Rússia, o “Oreshnik”, que foi usado pela primeira vez em um ataque à Ucrânia no final do ano passado.

Enquanto Lukashenko está “mais dependente da Rússia e de Putin do que nunca”, pode haver limites para essa aliança, conforme ponderou Gould-Davies, especialista em Rússia e Eurásia. “A Bielorrússia tem oferecido uma gama de serviços valiosos à Rússia, mas claramente não enviou suas próprias tropas [para a Ucrânia]”, apontou, sugerindo que isso poderia gerar uma reação negativa entre suas próprias forças armadas ou a população em geral. “Os bielorrussos comuns não veem isso como a guerra deles e não poderiam ser convencidos do contrário, não importa quanta propaganda o governo bielorrusso fizesse”, destacou o especialista.

Desde 2020, o governo de Lukashenko tem intensificado seus esforços para eliminar a dissidência. No final de dezembro de 2024, a Bielorrússia mantinha 1.265 prisioneiros políticos, segundo a Viasna, uma organização de direitos humanos. Entre eles está Ales Bialiatski, fundador da Viasna e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2022, junto com grupos de defesa de direitos humanos da Rússia e da Ucrânia. O prisioneiro mais velho, Mikhail Liapeika, de 76 anos, foi internado em um tratamento psiquiátrico compulsório após desferir insultos contra Lukashenko. Pavel Sapelka, advogado da Viasna, afirmou que muitos detidos estão sendo mantidos em condições que equivalem a “tortura”.

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