Após três meses de administração, a gestão de Juscelino Filho (União Brasil) no Ministério das Comunicações enfrentou sérias complicações. Durante esse breve período, informações revelaram que o ministro não havia declarado à Justiça Eleitoral um patrimônio de aproximadamente 2 milhões de reais em cavalos de raça. Além disso, foi apurado que ele utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para compromissos pessoais e direcionou 5 milhões de reais em emendas, em 2020, a uma estrada que dava acesso a sua propriedade em Vitorino Freire (MA), região cujo eleitorado é vinculado à sua família.
Embora tenha sido alvo de reportagens negativas e formalmente investigado, Juscelino permaneceu no cargo por mais de dois anos. Sua demissão ocorreu na última terça-feira, 8, após uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que o acusou de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. O tempo que ele permaneceu na posição, segundo aliados do presidente Lula, deveu-se à reverência pelo princípio da presunção de inocência, especialmente considerando o histórico de Lula, que foi preso injustamente, segundo a narrativa do Partido dos Trabalhadores.
A presunção de inocência, embora tenha ajudado a proteger Juscelino, é apenas uma parte da análise do contexto. O apoio a aliados em dificuldades é uma característica marcante da trajetória política de Lula, que demonstra uma alta tolerância a denúncias contra membros de sua equipe. O presidente frequentemente menciona que certas acusações “saem na urina” e, portanto, não devem ameaçar a estabilidade de seus principais ministros. Para ele, quaisquer possíveis desconfortos morais são superados pela manutenção e expansão do apoio de partidos e bancadas parlamentares, justificando, assim, a prolongada permanência de Juscelino Filho.
A demissão de Juscelino tornou-se inevitável não apenas pela denúncia da PGR, mas também porque a própria bancada do União Brasil passou a solicitar sua substituição, afirmando que ele não representava adequadamente o grupo. Politicamente influentes que apoiavam o ex-ministro foram consultados e concordaram com a mudança. Consequentemente, o presidente tomou a decisão sabendo que não sofreria retaliações da legenda.
Lula sempre expressou relutância em demitir ministros em razão de notícias veiculadas na imprensa ou por serem investigados. No passado, manifestou desconforto com ações da ex-presidente Dilma Rousseff, que liderou uma “faxina ética” no governo, exonerando ministros acusados de corrupção e outros crimes. Naquele momento, Lula afirmou a aliados que tais demissões poderiam criar turbulências políticas para Dilma e reclamou que sua sucessora estava se distanciando dele ao se mostrar rígida em relação a irregularidades, buscando, assim, apoio de setores que eram contrários a sua gestão.