Na manhã do dia 27, ocorreu um evento na Comissão de Infraestrutura do Senado que levou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a se deslocar para a Câmara dos Deputados. O intuito de sua visita ao presidente da Câmara, Hugo Motta, foi a tentativa de barrar a aprovação de novas normas de licenciamento ambiental, que já haviam sido aprovadas no Senado.
Marina reuniu-se com integrantes da Frente Parlamentar Ambientalista, incluindo o deputado federal Nilto Tatto. Durante esse encontro, foi entregue uma carta ao presidente Motta, expressando críticas às diretrizes de licenciamento ambiental que passaram pelo Senado. O documento destaca que as novas propostas tendem a flexibilizar as regras, além de apontar possíveis inconstitucionalidades no texto que está prestes a ser avaliado pela Câmara.
Um dos trechos da carta ressalta que a nova proposta estipula que os pareceres das autoridades competentes não terão caráter vinculante. Isso permitiria que os órgãos responsáveis pelo licenciamento ignorassem as recomendações de instituições com autoridade legal sobre os temas abordados.
Os participantes também expressaram preocupações sobre a situação dos povos indígenas, que somente seriam considerados se estivessem em terras demarcadas. A demarcação dessas terras vem enfrentando entraves há anos, atualmente aguardando a conclusão da análise da tese do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal.
De acordo com o texto, a participação de povos e comunidades tradicionais seria restringida a Terras Indígenas já homologadas e Territórios Quilombolas titulados. Dada a histórica omissão do Estado no processo de demarcação, isso significaria que todas as terras tradicionais ainda pendentes de homologação ou titulação seriam excluídas do licenciamento ambiental.
Marina relatou que o presidente da Câmara demonstrou abertura para escutar os argumentos, comprometendo-se a discutir o tema com os líderes partidários. A ministra destacou que, embora a questão seja de relevância estratégica para o governo, isso não minimiza os impactos ambientais de determinados empreendimentos.
Entretanto, Marina enfrenta um cenário complicado dentro do governo. Além das questões relacionadas ao licenciamento ambiental, o Ibama aprovou licenças para que a Petrobras inicie simulações de emergência na extração de petróleo na foz do Rio Amazonas, um tema que a ministra sempre contestou. Ela foi publicamente pressionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reconsiderar sua posição sobre a exploração.
Um assessor próximo a Marina afirmou que ela não planeja deixar o cargo e pretende continuar sua luta contra a aprovação das novas regras de licenciamento ambiental na Câmara. Há especulações de que ela possa repetir a decisão que tomou durante o segundo mandato de Lula, quando deixou o cargo por divergências em relação às políticas ambientais.
No final da tarde do mesmo dia, o presidente fez uma ligação para Marina para expressar solidariedade em relação aos ataques que ela sofreu no Senado. Durante a reunião na Câmara, deputados que estavam com Motta também criticaram a maneira como os senadores se comportaram em relação à ministra.