26 março 2025
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Mauro Cid: A Ascensão do Assistente que se Tornou um Delator Revelador

Com um currículo acadêmico extenso e mais de 20 anos de carreira militar, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, de 45 anos, é uma figura central em um julgamento sobre uma alegada tentativa de golpe de Estado no Brasil. Esta semana, ocorrerá uma audiência para determinar se o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitará as denúncias contra 34 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem Cid trabalhou como ajudante de ordens. Em 2023, Cid foi afastado do Exército, mas manteve sua patente e uma remuneração mensal de R$ 27 mil.

Antes de atuar diretamente no Poder Executivo, Cid construiu uma sólida trajetória acadêmica. Ele obteve doutorado em Ciências Militares pelo Instituto Meira Mattos da Escola de Comando e Estado-Maior, além de um mestrado em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército Brasileiro, e é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras. Seu currículo também indica interesse em Defesa Nacional, Terrorismo, Guerra Irregular, Oriente Médio e Relações Internacionais. Em 2018, durante a transição de governo, Cid foi nomeado ajudante de ordens do presidente eleito Jair Bolsonaro.

No papel de ajudante de ordens, Mauro Cid atuou como um “secretário executivo” do ex-presidente, responsável por assegurar que as agendas oficiais fossem cumpridas. Suas atribuições incluíam recepção de convidados, encaminhamento de pessoas para reuniões, atendimento de ligações, recebimento de correspondências, gerenciamento de documentos e organização de atividades pessoais do ex-presidente, como almoços e viagens. Este cargo é exclusivo para presidentes da República e altos oficiais das Forças Armadas, permitindo que cada uma dessas autoridades tenha dois oficiais nessa função.

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), Cid relatou que, durante as reuniões e a execução das agendas, geralmente ficava fora das salas, sem questionar as discussões e sem interferir nas decisões. Ele também foi questionado sobre alegações feitas pelo hacker Walter Delgatti Netto, que afirmou que Cid tinha conhecimento de planos com relação aos atos que ocorreram em 8 de janeiro. Em 2019, Cid assumiu a chefia da Ajudância de Ordem da Presidência, liderando os secretários encarregados de acompanhar a rotina do ex-presidente.

Apesar de ser o foco de um processo investigativo sobre tentativa de golpe, Mauro Cid foi detido pela primeira vez em 3 de maio de 2023, durante uma operação da Polícia Federal que investigava a fraude em cartões de vacinação contra a Covid-19. Ele foi acusado de falsificar documentos de Jair Bolsonaro e de familiares do ex-presidente, incluindo sua filha, Laura. Na condição de militar, Cid não pode cumprir pena em presídios civis, permanecendo em uma cela especial no Batalhão de Polícia do Exército em Brasília. Em setembro de 2023, após fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, ele foi liberado, mas precisou usar tornozeleira eletrônica.

A segunda prisão de Mauro Cid ocorreu em março de 2024, após uma audiência no Supremo Tribunal Federal em que ele foi convocado para depor. Durante a sessão, o militar desmaiou ao saber que seria preso novamente, especialmente após a divulgação de áudios em que ele afirmava ter sido coagido a fornecer declarações durante o primeiro depoimento. Ele expressou que se sentia “enclausurado” e relatou ter ganho “mais de dez quilos” naquela fase.

No acordo de colaboração premiada, Cid prestou longos depoimentos sobre supostos planos de golpe, a venda de joias recebidas como presente do governo da Arábia Saudita, a fraude em cartões de vacinação e atividades de desinformação. Esse acordo, homologado pelo STF, foi fundamental para a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que aponta o ex-presidente Jair Bolsonaro e 33 outros indivíduos como participantes de um plano para obstruir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. O sigilo da delação de Cid foi revogado em fevereiro deste ano, tornando públicos todos os seus depoimentos.

Entre as exigências do militar para a delação estavam a redução da pena para até dois anos, a devolução de bens apreendidos e medidas de proteção para ele e seus familiares. Em contrapartida, ele se comprometeu a relatar todos os crimes que conhecia e a entregar documentos e evidências pertinentes.

Conforme o depoimento de Cid, após a vitória de Lula nas eleições de 2022, havia três grupos insatisfeitos: os “conservadores”, os “moderados” e os “radicais”. Os “conservadores” incluíam figuras como o senador Flávio Bolsonaro e outros aliados. O grupo “moderado” era composto por generais da ativa. O núcleo “radical” incluía membros da família Bolsonaro. Cid relatou que uma reunião em novembro de 2022 teria discutido a mobilização de caminhoneiros e outras ações.

Ele também afirmou ter recebido dinheiro do então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, destinado a apoiar a implementação de um golpe, que teria sido entregue em uma sacola de vinho. Durante a delação, mencionou que Bolsonaro havia solicitado a monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, vinculando essa ação a uma suposta preocupação com encontros entre o magistrado e membros do governo.

Além disso, Cid revelou que Bolsonaro ordenou a venda de joias e relógios recebidos como presentes da Arábia Saudita. Essa venda, que totalizou US$ 86 mil, visava evitar suspeitas e foi realizada em parcelas. Na mesma linha, ele acusou o ex-presidente de ter autorizado a inserção de dados falsos sobre a vacinação contra a Covid-19 em sistemas oficiais.

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