Não é inédito na história da civilização que surgem preocupações a partir de descobertas que rompem com paradigmas estabelecidos, sinalizando uma nova era. A ascensão da inteligência artificial (IA), um reflexo do conhecimento humano, gera inquietações que merecem ser analisadas. Para isso, é pertinente refletir sobre momentos passados da humanidade, como o cenário que envolveu os tecelões de Nottingham, na Inglaterra, há duzentos anos. Esses trabalhadores enfrentaram desafios com a introdução do tear mecânico, um novo modelo que ameaçava suas formas tradicionais de trabalho, ligadas à produção artesanal de meias e rendas. Com receios de perderem seus empregos, muitos se uniram em protestos e tumultos contra a tecnologia que advinha da Revolução Industrial. Surgiu, então, a figura de Ned Ludd, um personagem simbólico que representava a resistência ao novo, culminando no movimento conhecido como luddismo, que se opunha à utilização de máquinas que desrespeitavam as práticas laborais anteriores. Entretanto, com o tempo, esses medos foram dissipados, dando lugar a novas oportunidades no mercado de trabalho, e a mesma evolução pode ser esperada em relação à IA.
Recentemente, o espectro do medo retornou, com preocupações sobre a eliminação de empregos e os efeitos negativos na juventude, evidenciando uma preferênciapelo convencional em detrimento da inovação. Há ainda muito a ser aprendido acerca da IA, mas é fundamental reconhecer que ela não é um problema em si. O cenário atual é semelhante ao que a publicação tem observado desde o início do desenvolvimento de novas tecnologias. Várias edições têm documentado a mudança nas percepções à medida que as inovações progrediram e os temores foram diminuindo. Bill Gates, cofundador da Microsoft, destacou, em uma palestra recente, que é irônico que exista uma área em que a máquina não superará a inteligência humana: seu próprio desenvolvimento. Sem a intervenção humana, a IA permaneceria sem aprendizado.
A interação da IA com o cotidiano se intensificará até que se torne essencial, similar ao que já ocorre com a internet, que também enfrentou receios em seus primórdios. O foco deve ser a promoção da responsabilidade, evitando desinformação e abusos econômicos. Nesta edição, serão apresentados dois aprofundados estudos sobre os avanços proporcionados pelos algoritmos: uma entrevista com Kent Walker, executivo do Google, que aborda questões jurídicas e relações globais, e uma reportagem especial que investiga a IA na educação. Ambos os casos ressaltam o compromisso com o progresso, respeitando a ética. Assim, a IA se apresenta como uma ferramenta civilizatória que demanda cuidado e respeito em seu uso.