Os dados referentes ao mercado de trabalho em março apresentaram resultados inferiores aos de fevereiro. Apesar disso, analistas indicam que a economia brasileira continua em expansão, mesmo diante do ciclo de alta dos juros iniciado em setembro do ano passado. Especialistas afirmam que a taxa de desemprego será o último indicador a refletir os impactos dessas taxas. Os efeitos mais significativos devem começar a surgir no segundo semestre deste ano.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) registrou uma taxa de desemprego de 7%. Em contraste, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou a criação de 71 mil novas vagas de emprego em março, o que representa o pior resultado desde 2020. O departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco destacou que, embora os dados de março tenham mostrado uma desaceleração, ainda indicam um crescimento robusto da atividade econômica no primeiro trimestre.
O mercado propõe um cenário de aquecimento, que ocorre mesmo com as altas taxas de juros implementadas no país. Em março, o Banco Central elevou a Selic para 14,25% ao ano, atingindo o maior patamar desde 2016. A taxa Selic é o principal mecanismo utilizado pelo Banco Central para o controle da inflação. Com a elevação da Selic, o custo do crédito aumenta, reduzindo a demanda e, consequentemente, os preços.
Economistas afirmam que os efeitos do ambiente econômico, seja de desaceleração ou aceleração, refletem-se no mercado de trabalho de forma tardia. As empresas, geralmente, tentam manter o quadro de funcionários durante períodos de instabilidade, uma vez que contratações e demissões acarretam custos elevadíssimos. Especialistas explicam que, durante uma desaceleração, principalmente na indústria, as empresas tendem a reter seus trabalhadores o máximo possível, diante da escassez de mão de obra qualificada.
Segundo economistas, mesmo em um cenário de desaceleração econômica, é provável que a geração líquida de empregos continue por algum tempo, o que significa que a taxa de desemprego não será impactada imediatamente. Um coordenador de pesquisa macroeconômica assinalou que há sinais de um arrefecimento no mercado de trabalho. Dados mais recentes indicam uma ampliação da desaceleração que já havia sido percebida anteriormente na economia brasileira.
O padrão de arrefecimento identificado sugere que os próximos dados serão cruciais para determinar se esse processo se caracterizará por uma desaceleração suave ou por um impacto mais severo. Apesar de a atividade no mercado de trabalho permanecer acima dos padrões históricos, economistas esperavam resultados mais expressivos. Depois de um mês recorde em fevereiro, que viu a abertura de 431 mil vagas, o mercado aguardava que o resultado de março fosse em torno de 200 mil vagas.
Embora exista uma desaceleração na economia, a maioria dos especialistas acredita que essa queda está ocorrendo de forma lenta. O diretor de uma instituição financeira destacou que, historicamente, o mercado de trabalho responde com atraso a mudanças nas condições econômicas. Esses dados recentes ajudam a compor a análise de um cenário em desaceleração, embora ainda lenta.
Nas reuniões recentes do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central vem mencionando a pressão do mercado de trabalho aquecido como um potencial fator de alta inflação. Por outro lado, essa desaceleração econômica pode ser um elemento que conduza a uma futura redução das taxas de juros. Contudo, os dados mais recentes do mercado de trabalho não devem influenciar a decisão do Copom, que deve ocorrer em breve.
O ex-diretor do Banco Central afirmou que, como o processo de alta da Selic ainda está em andamento, muitos dados precisam ser considerados antes de se traçar um cenário. As decisões também dependem de uma desaceleração mais marcante na economia e de uma redução substancial dos índices inflacionários, o que não se observa no momento. Apesar da desaceleração da “prévia da inflação” em abril, a inflação acumulada em 12 meses segue acima da meta estabelecida pelo Banco Central.
As expectativas de preços continuam elevadas, mesmo com a recente desaceleração. Embora o ciclo de alta da Selic esteja próximo do fim, especialistas acreditam que o momento exige cautela, e que o ambiente externo é um fator a ser considerado com atenção. A perspectiva é que, ao final do processo, haja mais uma ou duas elevações, mas o foco atual está em manter a calma e observar os desdobramentos futuros da economia.